São Paulo, domingo, 9 de fevereiro de 1997
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'Caso O. J. dos anos 50' pode ter solução

Exames de DNA podem reabilitar médico 42 anos após crime

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O equivalente ao caso O. J. Simpson na década de 50 pode estar sendo finalmente resolvido, e o veredicto parece ser o de inocente.
Na madrugada de 4 de julho de 1954, Marilyn, mulher do médico Sam Sheppard, foi morta a cacetadas em sua luxuosa casa às margens do Lago Erie, em Cleveland, Ohio, Meio-Oeste dos EUA.
Sheppard, rico e personagem constante das colunas sociais da cidade, foi preso e acusado do crime. Ele alegou inocência. Disse que estava dormindo num sofá na sala quando foi acordado pelos gritos da mulher e depois se defrontou com um homem que saía do quarto dela, bateu nele e fugiu.
O ar arrogante de Sheppard e mentiras durante o julgamento a respeito de seu casamento (ele negava ter tido relação extraconjugal, que a promotoria provou) fizeram com que a maioria dos norte-americanos acreditasse na sua culpa. O júri o condenou à perpétua. Ele passou dez anos preso.
Em 1964, a Suprema Corte anulou seu julgamento por causa da excessiva publicidade que o caso tivera. A Corte achou que o clima de circo havia predisposto os jurados contra o réu. Em 1966, defendido por F. Lee Bailey, que depois fez parte do time de defesa de O. J. Simpson, Sheppard foi absolvido.
A opinião pública, no entanto, manteve sua opinião de que o médico era culpado. Ele ganhou a liberdade, mas não a paz de espírito. Alcoólatra e viciado em drogas, morreu em 1970, aos 46 anos.
Seu único filho, Sam Reese Sheppard, que tinha 7 anos e dormia no quarto ao lado quando a mãe morreu, resolveu a partir de 1992 provar a inocência do pai. Contratou uma equipe de investigadores, que incluiu especialistas em DNA.
Examinando manchas de sangue encontradas nas calças de Sheppard e no chão da casa e amostras extraídas da vagina de Marilyn, eles descobriram que outra pessoa, além da família, estava na casa no dia do crime. O DNA identificado é consistente com o do único outro suspeito, o lavador de vidraças Richard Eberling, que prestava serviços na casa de Sheppard.
Em 1959, Eberling foi preso por roubo. Em sua casa foi achado um anel que pertencera a Marylin. Ele afirmou ter roubado o anel da casa do irmão de Sheppard. Em 1989, Eberling foi preso de novo, por homicídio de uma viúva de 90 anos, e condenado à prisão perpétua, pena que está cumprindo.
Eberling, 67, ainda nega a autoria da morte de Marylin. Sam Reese Sheppard espera obter, se não a condenação, pelo menos uma declaração formal da inocência do pai, com a qual pretende conseguir indenização pelas perdas que teve devido ao que considera um erro da Justiça.

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