São Paulo, domingo, 9 de fevereiro de 1997
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Argentina pode ter teste para dirigentes

RODRIGO BERTOLOTTO
DE BUENOS AIRES

O Congresso argentino deve abrir uma brecha em março e, entre temas como a fronteira com o Chile e a legislação trabalhista, decidir se o país vai adotar o teste antidoping para seus dirigentes.
O projeto de lei prevê o exame de políticos, juízes, promotores e funcionários públicos federais. Inclui também o presidente, vice e membros da Corte Suprema de Justiça.
Caso seja aprovado -precisa 130 dos 257 votos-, entra em vigência já nas eleições de outubro.
Seu autor é o deputado Miguel Angel Toma, 47. "Se os futebolistas fazem antidoping, com mais razão os políticos, que têm uma responsabilidade social maior, devem fazê-lo", argumentou.
O projeto, apresentado em novembro, foi colocado no temário de votação pelo presidente do país, Carlos Menem, e tem apoio dos governistas de seu Partido Justicialista.
"Vamos dar a garantia ao povo que as decisões que movem o país não estão afetadas pelas drogas", afirmou Toma à Folha.
Oposição
A proposta é ridicularizada pela oposição. "Talvez terminemos fazendo um sorteio, após cada votação da Câmara, para ver quem vai ao banheiro para dar sua amostra de urina", ironiza Federico Storani, líder da União Cívica Radical.
Se for comprovada a dependência de drogas ilegais, a pessoa será afastada da vida pública até que um outro teste mostre que não há mais o vício. Não está previsto uma programa de recuperação.
"Vamos usar 20 tipos de testes científicos para detectar os viciados", afirma Toma. As anfetaminas e os medicamentos com opiácios (remédios contra a tosse) estão fora da lista. A maconha, sim.
O deputado cita as legislações de 12 Estados dos EUA e uma proposta surgida para a nova Constituição chilena como exemplos similares a sua iniciativa.
Precedentes
Desde de fevereiro de 1996, o município de Escobar, na Província de Buenos Aires, aplica uma rinoscopia (exame das fossas nasais) para os novos empregados.
Mas, ao contrário da proposta de Toma, está assegurado ali um programa de reabilitação para o selecionado ao posto público.
As insinuações de uso de drogas por parte de políticos argentinos se acentuaram nos últimos anos.
Em 1991, a Província de Catamarca sofreu uma intervenção federal e seu então governador, Ramón Saadi, ao ser destituído, disse: "Do presidente para baixo, todos deviam fazer uma rinoscopia para ver se algum é drogado".
Passados quatro anos, foi a vez do secretário de Prevenção ao Vício e Luta contra o Narcotráfico, Alberto Lestelle, criticar.
Em uma palestra acadêmica, Lestelle afirmou: "Há legisladores que à noite estão dormindo no plenário, de repente, explodem como uma bomba e fazem um discurso magnífico. Com certeza, foram ao banheiro e deram um 'nariguetazo' de cocaína." As duas frases custaram o cargo a Lestelle.
'Efeito passarela'
Por seu lado, o deputado Toma disse que nunca viu ou ouviu que um colega se drogasse. "Não na minha presença."
"Não tenho medo de ser chamado o 'Passarella' do Congresso", disse Toma.
Daniel Passarella, técnico do selecionado argentino de futebol, propôs uma rinoscopia prévia para todo o jogador que fosse convocado para a seleção -uma reação ao estigma criado após os testes positivos de Diego Maradona e Claudio Caniggia.

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