São Paulo, domingo, 9 de fevereiro de 1997
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A VEZ DAS REFORMAS

Desde que foi conduzido, no dia 3 de outubro de 1994, com o voto de mais de 34 milhões de brasileiros, ao posto máximo da nação, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso sempre reafirmou suas animadoras promessas de que promoveria grandes mudanças no país. As reformas seriam prioridade de seu governo, que ficaria assim marcado por uma histórica passagem de uma estrutura gigantesca e ineficiente para um Estado verdadeiramente moderno.
Apesar de ter conseguido manter uma significativa popularidade ao longo da primeira metade de seu mandato, devido principalmente aos efeitos benéficos da estabilidade da moeda, o ritmo das reformas foi se mostrando decepcionante diante dos anseios de todo o país. O que era premente foi relegado a simples elemento de negociação com os instáveis partidos que formam a base governista no Congresso Nacional.
No ano de 1995, o Executivo foi tomado pela necessidade de fortalecer o Plano Real, acuado pelo fantasma da crise mexicana. As reformas permaneciam no discurso, mas foram aos poucos relegadas à sala de espera das ações governamentais. Em 1996, muito se falou, discutiu e, até mesmo, votou. Entretanto, as eleições municipais se impuseram, constituindo motivo suficiente para que o combate à inoperância do Estado ficasse para o ano seguinte.
Já no início de 1997, o presidente da República apostou todo o seu prestígio político na conquista do direito de disputar a reeleição. Venceu. Colocou em operação sua rede de influência no Congresso em favor de seus candidatos às presidências das duas Casas e, novamente, sagrou-se vitorioso. Começou seu terceiro ano de governo com a força política proporcionada pelas urnas revigorada. Mas, infelizmente, sem as reformas.
Sem mudanças na Previdência, na estrutura administrativa do Estado ou nos sistemas tributário e político, o discurso presidencial dos últimos dois anos perde totalmente o sentido. Urge que o presidente utilize o apoio político que conquistou para promover as prometidas mudanças.
Não se justificaria qualquer adiamento das reformas para um possível novo mandato de FHC. Há muito é chegada a hora de adequar o antigo e cansado Estado brasileiro às necessidades do mundo atual. Condições políticas, hoje o presidente as tem de sobra. Cabe agora aproveitá-las.

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