São Paulo, domingo, 9 de fevereiro de 1997
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DIPLOMACIA ECONÔMICA

Já são óbvios pelo menos dois impactos da globalização sobre os governos. De um lado está o desafio da disciplina fiscal imposta pelos mercados financeiros globais. De outro, a diplomacia ficou mais exposta às pressões do paradigma "CNN", ou seja, do impacto instantâneo da notícia sobre a imagem de cada país.
São pressões cada vez mais fortes, mas na prática os governos reagem por meio de instrumentos conhecidos, ainda que muitas vezes carecendo de agilidade. Cabe às autoridades fazendárias e ao corpo diplomático assumir os desafios de aumentar a credibilidade tanto fiscal quanto política, em sentido mais amplo.
Mas isso não basta. Há também uma nova agenda nas relações externas que não cabe nesse figurino. Eminentemente econômica, com destaque para as questões comerciais, mas incluindo também temas relativos a transferência de tecnologia, regimes de investimento, adequação de regimes aduaneiros, regulamentação do mercado de trabalho e desenvolvimento sustentável.
A diplomacia brasileira sempre acalentou um projeto ambicioso. Os conflitos com os Estados Unidos, por exemplo, não são novidade nem perderão intensidade no futuro previsível. Nossa diplomacia dedica-se hoje a tecer uma rede de apoios internacionais que multiplique as alternativas e diversifique as alianças -com destaque para a União Européia.
A estratégia econômica externa, entretanto, é vítima de uma dispersão de instrumentos e agendas entre vários ministérios e, acima de tudo, de um grau ainda baixo de envolvimento com a sociedade e com os setores empresariais afetados. Enfrentar atritos globais sem legitimidade doméstica é apenas voluntarismo.
O Brasil quer ocupar uma posição diferenciada no cenário global. Mas, em outros países, a diplomacia econômica ganha cada vez maior visibilidade e projeção institucional. A política externa do Brasil, para ser levada a sério no exterior e no país, deve reorganizar-se com urgência.

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