São Paulo, quarta-feira, 12 de fevereiro de 1997 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Alain Delon interpreta escritor atormentado em filme de Lévy
RAUL MOREIRA
A película, inspirada na vida do escritor norte-americano Ernest Hemingway, é repleta de cenas de violência e sexo. Além disso, tem como pano de fundo o México da revolta zapatista. Alain Delon faz o papel de um escritor atormentado espiritualmente, no limite do abismo existencial. A atriz Arielle Dombasle é a mulher das horas extremas e Lauren Bacall é o enigmático prenúncio de uma tragédia. Polêmica No entanto, a maior curiosidade da imprensa européia nos últimos dias é saber como dois personagens tão diversos, polêmicos e hostis como Delon e Lévy conseguiram trabalhar juntos. Ambos disseram que o fato dos dois se sentirem um pouco "Hemingways" acabou facilitando a relação. Bernard-Henry Lévy é filho da elite judaica e foi personagem marcante dos anos 60, época em que era influenciado pelo maoísmo. Foi também seguidor do seu colega e compatriota Louis Althusser, autor de "A Barbárie e o Vazio Humano". Alain Delon, reconhecidamente rebelde, foi soldado na guerra da Indochina e muitas vezes foi tentado à marginalidade e ao crime, como reconhece. No início dos anos 60 o diretor italiano Luciano Viscontti o descobriu, lançando-o em filmes de sucesso, como "O Gattopardo". Duas carreiras distintas e de opiniões contrastantes. Alain Delon diz que se sente mais intérprete do que ator. Lévy afirma que deseja ser sobretudo ator, como fez no recente filme "Bósnia", onde experimentou fazer o papel de um soldado. Sobre os dois, uma jornalista francesa disse: "As mulheres amam Bernard-Henry Lévy, mas elas "devoram Alain Delon", referindo-se ao sucesso do ator francês na peça "Variation Énigimatiques", onde interpreta também um escritor em fim de carreira. Hemingway Tanto o filósofo-diretor, como o ator, a exemplo de Hemingway, são de acordo que só se vive uma vez. "Um Hemingway vive no meu Pantheon pessoal. Eu o sinto escorrer no sangue, o que encaro como um encontro entre a ação e a literatura", confessou o filósofo em uma das suas entrevistas. O detalhe curioso é que Delon reconheceu que durante as gravações de "Le Jour et la Nuit", tentou interferir no filme, o que não conseguiu. Mas não foi um drama: "Se eu tivesse conseguido, o prazer não seria tão grande, teria trabalhado com desgosto". O resultado do insucesso do seu "golpe de estado" é que Delon afirmou ter recuperado a sacralidade do cinema, e diz não querer outra cosia: "Consegui tudo que um ator poderia sonhar, Clement, Viscont, Losey, Antonioni, Huston... Não vou me acabar por não conseguir tirar algo mais de um filme", disse. Texto Anterior: Indicação despreza grandes bilheterias Próximo Texto: Brasileira vence festival na França Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |