São Paulo, quarta-feira, 12 de fevereiro de 1997
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Pernoite no acampamento; Ética; Falta de respeito; Universidades ameaçadas; Exemplo; Confiança; Contribuição indesejada; Lei da Música; Reações; Aberração

Pernoite no acampamento
"Fico louca da vida quando a Folha faz a cobertura de um fato, mas já com a pauta pronta. É o caso da foto do senador Suplicy dormindo no acampamento dos sem-terra.
Óbvio que o diferente, e, portanto, notícia, é um senador dormir num acampamento.
Só que, em vez de ficar só nas bobagens de se tem mosquito ou como é a cama, nada se fala sobre o que ele estava fazendo lá em pleno recesso de Carnaval, as atividades de negociação que o senador vem contribuindo em Brasília e no local dos conflitos nos últimos meses entre as partes interessadas e o governo.
Não é à-toa que o leitor Paulo de Souza Cavalcanti ('Painel do Leitor', 11/2) esculhamba o senador dizendo que é oportunista e quer pegar carona no falecido Caxias da novela 'Rei do Gado', indo até ao seu enterro!
Quem convidou para participar da novela foi o autor, Benedito Ruy Barbosa, por acompanhar a participação do senador de verdade nessas atividades e ter conversado inúmeras vezes com ele sobre o movimento dos sem-terra.
Se era para ir algum senador, é lógico que deveria ir um com afinidades. Ou que tal convidar o Antonio Carlos Magalhães?
E por que ir? Porque a novela teve o mérito de mostrar como é a luta dos sem-terra, e porque o senador fictício travava uma batalha digna, dentro de princípios que o convidado também se esforça para fazer prevalecer no Senado.
Por que não ir? Caxias não era Suplicy, e eu graças a Deus não sou aquela chata da mulher dele. Agora, se o leitor quiser criticar, que o faça, mas pelo menos com informações."
Marta Suplicy, deputada federal pelo PT-SP (São Paulo, SP)

Ética
"Segundo uma das notas da coluna 'Painel' de 31/1, um aliado do governo diz que os pedidos atendidos para permitir a aprovação da emenda da reeleição 'estão no limite da ética'.
Entendemos que a votação de qualquer projeto em tramitação no Congresso feita na base de concessão de favores pessoais e/ou paroquiais é aética, tanto em relação a quem exige o pagamento quanto em relação a quem paga.
Tal procedimento desloca o centro de interesse da matéria a ser votada para a benesse exigida. Se atendida, vota-se a favor. Caso contrário, vota-se contra. O objeto da votação é de somenos importância.
Parafraseando a Bíblia: infeliz o país cujo deus é o interesse individual."
Demósthenes Soares dos Santos (Salvador, BA)

Falta de respeito
"É difícil (ou era) acreditar como a falta de respeito para com o povo brasileiro ainda existe!
Na primeira página, aparece a notícia da aprovação de 7 projetos, apenas, de um total de 107, e gastando a bagatela de R$ 9,5 milhões com a convocação extraordinária.
É correto deixar claro ao Congresso que R$ 9,5 milhões equivalem a 84.821,428 salários mínimos e os R$ 16 mil pagos a cada congressista, em virtude da convocação extraordinária, são equivalentes ao total de 142,857 salários mínimos."
Wagner R. Brandini (Santa Cruz do Rio Pardo, SP)

Universidades ameaçadas
"É infelizmente correta a conclusão do prof. Marcelo Rede, em artigo em 3/2, a respeito da atitude do governo federal para com as universidades públicas: desacreditá-las aos olhos da população não é sintoma de uma ojeriza pessoal, só pode ser mesmo um programa de governo!
Somente assim se explicam as inverdades e as acusações contra uma instituição que, ao longo destes últimos 30 anos, conseguiu desenvolver-se e aperfeiçoar-se, apesar das muitas crises e ameaças que enfrentou.
Ironicamente, parece que justamente um governo de supostos professores está conseguindo minar, de maneira eficaz, suas bases de resistência."
Elísia Paixão de Campos (Goiânia, GO)

Exemplo
"José Goldemberg foi brilhante em seu artigo 'Brazilianistas' e 'americanistas' (8/2). A indústria calçadista brasileira é o mais recente exemplo do que diz Goldemberg.
Quando era detentora de grande fatia do mercado consumidor dos EUA, descuidou-se ao deixar de se preocupar com as tendências do importador americano, bem como ao deixar de policiar os países potencialmente concorrentes como a China, por exemplo, que, embora apresentando um produto de qualidade inferior, mas de preços mais baixos, fez com que o Brasil reduzisse drasticamente a colocação de sua produção no mercado norte-americano."
Ademar Ribeiro (São Sebastião do Paraíso, MG)

Confiança
"Goleiro de futebol é como breque de carro. Se o resto do time confia nele, dá para acelerar tranquilo.
Parabéns, Zetti, você conseguiu isso no Santos."
Luís Gonzaga Rocha Leite (Tatuí, SP)

Contribuição indesejada
"Interessante, mas infeliz a publicação de rendimentos dos jovens que integram o Comando Vermelho no Rio de Janeiro.
A reportagem sem dúvida nenhuma contribui para o aumento da procura pelos já disputados cargos dentro das organizações relacionadas ao tráfico de drogas."
Luiz Roberto G. Ramos (Foz do Iguaçu, PR)

Lei da Música
"O ministro da Cultura, Francisco Weffort, pretende criar um imposto de 30% sobre importação de CDs gravados no exterior.
Com isso estará favorecendo artistas brasileiros que produzem obras de má qualidade, tolices de cunho comercial, humoristas de baixo nível, reboladores de nádegas e desvirtuadores de nossas raízes culturais.
Aparentemente, o ministro pensa que passaremos a comprar discos ruins só porque se tornarão mais baratos; parece desconhecer que muito do que existe de bom em música só é produzido lá fora, por questões de escala.
Se a nova Lei da Música for criada, farei questão de nunca mais comprar um CD produzido no país.
A cultura brasileira precisa de apoio sério, e não de medidas artificiais de proteção ao filistinismo cultural."
José Luís Neves (São Paulo, SP)

Reações
"Confessam-se incapazes de governar em um período constitucional, ignorando a história de nossa República, quando, à exceção do período ditatorial de Vargas, todos os presidentes governaram na duração de seus mandatos, criaram a Vale do Rio Doce e a Petrobrás, bem como trouxeram o Brasil à posição que hoje ocupa no conjunto das nações.
Depois de venderem tudo, apátridas e sem alma, quererão mais, mais tempo no poder, ignorando os excluídos, desempregados e inadimplentes.
Talvez, então, sejam consagrados como a 'saga dos vendilhões incapazes'. Talvez não, pois já se ouvem as primeiras reações vindas daqui e dali -não é a voz rouca dos iludidos, é a voz clara do povo consciente."
Carlos Eugênio Monção Soares (Brasília, DF)

Aberração
"A aberração das aberrações é o núcleo das campanhas: o horário eleitoral gratuito, provavelmente único do gênero no mundo.
A um só tempo paternalista, autoritário e demagógico, esse expediente tem como premissa a desconfiança na liberdade de imprensa e, em última análise, a desconfiança no discernimento da sociedade."
Erivaldo dos Santos (Presidente Prudente, SP)

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