São Paulo, sábado, 15 de fevereiro de 1997 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Morre presidente demissionário da FNS Edmundo Juarez teve hemorragia interna ABNOR GONDIM
Ele havia pedido demissão há dez dias. Em carta ao ministro Carlos Albuquerque (Saúde), atacou a redução da compra da vacina anti-hepatite B de 40 milhões para 10 milhões de doses. Na carta, se diz vítima de "intromissão" e alerta o ministro para consultar as comissões especializadas antes de reduzir a compra da vacina, como propuseram os secretários Barjas Negri e Antonio Werneck. "Assim não dá para trabalhar", disse anteontem, em entrevista à Folha, ao justificar deficiências no combate às epidemias por causa do corte de quase 70% do R$ 1,9 bilhão previsto no orçamento da FNS em 96. Professor de epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, Juarez era remanescente da equipe do ex-ministro da Saúde Adib Jatene. Com a saída de Jatene, em novembro, Juarez continuou no cargo como interino. Ele foi encontrado agonizante em seu apartamento, às 8h30, pela secretária Rosa Mitsui, a quem chamou por telefone para levá-lo ao hospital. Seu corpo será cremado hoje, em São Paulo. A seguir, trechos da entrevista: * Folha - O que levou o sr. a pedir demissão do cargo? Edmundo Juarez - Intromissão. Folha - O sr. não está sendo insensível à falta de recursos do Ministério da Saúde para comprar vacinas anti-hepatite B? Juarez - Se fosse por causa do pouco dinheiro destinado à FNS, já teria brigado com o Jatene a soco. Não ter dinheiro, tudo bem. Não aceito interferência. Folha - Com a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), o governo não vai evitar a redução na compra da vacina anti-hepatite B? Juarez - A informação que tenho é que o dinheiro da CPMF vai ser gasto com pagamento de dívidas com o Fundo de Amparo ao Trabalhador e com os hospitais. É a hora de perguntar por que o governo não pode dar R$ 2 milhões por mês para comprar 40 milhões de doses em 20 vezes. Folha - O sr. não concorda em definir como prioridade da vacinação anti-hepatite B as crianças com menos de um ano de idade? Juarez - Uma criança nasce infectada se a mãe portar o vírus da hepatite B, o que é raro. Em populações normais, as pessoas se infectam quando começam a ter experiências sexuais. Folha - Como se explica o retrocesso em sua gestão à frente da FNS em termos de campanhas de saúde pública, como a urbanização da malária em Manaus? Juarez - Falta de recursos. Não consegui gastar R$ 52 milhões orçamentados para o combate da malária. Em 96, houve um corte de R$ 700 milhões no orçamento da FNS (de R$ 1,9 bilhão). No final de 96, tinha dinheiro. Mas não tinha ordem para pagar. Aí que se pagou com o orçamento da fundação. Todo o programa de hanseníase, de tuberculose, também ficou na conta da CPMF. Como a CPMF não estava aprovada, esses programas não poderiam ser incluídos no orçamento de 96. Tuberculose e hanseníase ficaram a zero. Folha - Mas sobrou ainda R$ 1,2 bilhão do orçamento. Juarez - Tira mais R$ 600 milhões do corte feito no final do ano. Por ano se gasta R$ 360 milhões para manter a FNS. Aí me sobrou R$ 240 milhões. Folha - Qual o principal problema a ser enfrentado pela FNS? Juarez - Pela magnitude, a dengue. Texto Anterior: Nova vítima de trote se apresenta à polícia Próximo Texto: Juiz manda arquivar caso Cláudia Liz Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |