São Paulo, segunda-feira, 17 de fevereiro de 1997 |
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MST vai aumentar invasões esta semana
FRANCISCO CÂMPERA
Hoje, 1.450 sem-terra partem de São Paulo e de outras regiões do país em marcha rumo a Brasília. O objetivo é chegar à capital federal no dia 17 de abril, data que marcará um ano da morte de 19 sem-terra pela Polícia Militar em Eldorado dos Carajás, no Pará. O líder nacional do MST, José Rainha Júnior, disse que só um aumento no ritmo da reforma agrária poderá demover os sem-terra da decisão de intensificar as invasões a partir desta semana. "O problema é de necessidade. Com certeza vamos aumentar as invasões. O governo só conversa. Não resolve nada", disse. "Até entidades internacionais sérias estão reconhecendo o problema." Para Rainha, o presidente Fernando Henrique Cardoso está "sem moral" depois que recebeu "um puxão de orelhas" de um grupo de intelectuais italianos na semana passada. Ao receber o título de "honoris causa" da Universidade de Bolonha, Itália, um grupo de intelectuais deu a FHC uma carta cobrando agilidade na reforma agrária. O presidente afirmou que os intelectuais não "sabem nada" sobre a reforma agrária no Brasil. FHC disse ainda que considera o MST "um pouco primitivo". Em encontro na sexta passada, o papa também cobrou de FHC uma solução "dentro da lei" para o problema no campo. O líder dos sem-terra afirmou que o governo não tem feito nada "de concreto" pela reforma agrária. Daí a decisão de intensificar as invasões. "Não adianta ficar só falando", disse Rainha. Além das invasões, o líder do MST acredita que manifestações públicas, como a marcha a Brasília, deverão "sensibilizar a sociedade sobre a urgência da reforma". Marcha Nacional A saída está marcada para as 9h na praça da Sé (centro). Mais 850 sem-terra partirão de outros pontos do país. Todas as caravanas devem se encontrar depois para, juntas, chegarem a Brasília. Atos públicos contra a atual política agrária do governo serão realizados em todas as cidades onde as caravanas pararem. Em João Monlevage (MG) também está programado um ato contra a privatização da Companhia Vale do Rio Doce. Segundo Gilmar Mauro, um dos líderes do MST, a caminhada tem o objetivo de "chamar a atenção da sociedade." Mauro reclama da impunidade no caso das mortes no Pará. "Até hoje ninguém foi punido. Quando é o sem-terra que morre, a Justiça é morosa", disse. Em Brasília, os sem-terra também vão comemorar o Dia Internacional da Luta Camponesa. A data foi escolhida durante encontro das organizações camponesas internacionais no México, em 1996, quando ocorreram os assassinatos em Carajás. Jobim O ministro Nelson Jobim (Justiça) inicia hoje viagem de uma semana para cobrar ações contra a impunidade no campo dos Poderes estaduais do Pará, Rio Grande do Sul e São Paulo. A viagem foi acertada com FHC para desestimular a violência rural. Jobim irá pedir ações contra os sem-terra que invadem e os fazendeiros que se armam. Texto Anterior: Diferenças não ameaçam relação comercial com EUA Próximo Texto: TFP paga 'S.O.S. Fazendeiro' Índice |
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