São Paulo, segunda-feira, 17 de fevereiro de 1997
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Curador aproxima mercado brasileiro e europeu

MARIA ALZIRA BRUM LEMOS
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM MADRI

A feira de Arte Contemporânea, Arco 97, que se realiza em Madri até amanhã, tem mostrado o amplo espectro da produção artística que circula hoje no mercado europeu, norte-americano e latino-americano.
A arte latino-americana é o destaque desta feira. 14 países latino-americanos apresentam pela primeira vez na Espanha, por meio de obras de 180 artistas, uma retrospectiva panorâmica da arte contemporânea do Continente.
O Brasil, com dez galerias, é o país que tem maior número de representantes entre os latino-americanos. A receptividade dos colecionadores, galeristas, curadores de museus e do público em geral tem entusiasmado os organizadores da Arco, que pretendem seguir nesta linha de trabalho para as próximas edições.
Rosina Gómez-Baeza, diretora da Arco, e Octavio Zaya, curador da mostra latino-americana na Arco, falaram anteontem à Folha sobre os três anos de trabalho para montagem da feira. Leia abaixo trechos da conversa.
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Folha - Como se desenvolveu a idéia de realizar uma mostra de arte contemporânea latino-americana dentro da Arco?
Rosina Gomez-Baeza- Havia uma necessidade, por parte dos curadores, galeristas e colecionadores em conhecer a arte contemporânea latino-americana. Trata-se de uma expressão praticamente desconhecida aqui.
Concluimos que a Arco seria uma excelente oportunidade para isso. Trabalhamos muito, por três anos, viajando, conhecendo a produção artística destes países.
A arte latino-americana é emergente no mercado norte-americano mas a situação econômica espanhola talvez não tivesse permitido uma mostra como esta há alguns anos.
Folha - Há alguma tendência dentro da arte latino-americana?
Octavio Zaya- Se falamos em tendências, corremos o risco de deixar de lado os conflitos que a globalização e a problemática transnacional trazem consigo. As multinacionais, a Internet, a arte eletrônica e uma série de outros fatores fazem com que já esteja superado falar em tendências fixas.
Mas há aspectos que podem ser considerados emergentes, como o interesse pela fotografia, pelo vídeo, pelas instalações, etc...
Folha - Qual conceito orienta a feira?
Zaya - No nível teórico não gosto de termos como pluralismo, que ocultam o conflito. A questão principal é o caráter conflitivo das correntes contemporâneas.
Rosina - Fazer com que as galerias mostrem seus trabalhos a especialistas e instituições, mas também ao público mais amplo. Nosso objetivo é o de uma feira: intermediar. O conceito que nos orienta é o da intermediação.
Folha - Qual a receptividade das galerias brasileiras na Arco?
Zaya - O Brasil tem uma história de modernidade que vem dos anos 20. Quanto ao conceito atual das galerias, as brasileiras são as que mais se aproximam da forma como o mercado europeu se organiza.
As diferenças da arte dos diversos países tem que ver com diferenças históricas. Não podemos nos esquecer, por exemplo, que no Brasil a poesia concreta surge nos anos 50, enquanto na Espanha isto só aconteceu na década de 70.
Temos interesse de aprofundar a importância do Brasil nestes contextos. Outros países não desenvolveram tanto esta tradição contemporânea por diversos motivos.

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