São Paulo, sábado, 22 de fevereiro de 1997
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Corpo com atestado falso será exumado

CRISPIM ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A maioria dos 83 corpos que tiveram os atestados de óbito falsificados no hospital de Heliópolis deverá ser exumada, segundo o delegado Romeu Tuma Júnior, responsável pelas investigações.
O principal objetivo da polícia com a realização das exumações é descobrir se houve tráfico dos órgãos dos cadáveres.
"Temos informações, não comprovadas, de que os corpos saíam do hospital em caixões lacrados", disse o delegado. Os corpos teriam ficado nesse mesmo tipo de caixão durante o velório. É esse fato que faz a polícia com uma grande possibilidade de tráfico de órgãos.
Segundo Tuma Júnior, a legislação determina que um corpo deve ser colocado em um caixão lacrado geralmente quando ele sai do IML ou quando são passadas 24 horas da morte.
"Aliado ao fato de que o valor cobrado pelo atestado de óbito falso era relativamente baixo, suspeitamos de que poderia ter havido tráfico de órgãos ou até mesmo dos corpos."
Seguindo esse raciocínio, de acordo com Tuma Júnior, a família poderia ter sido enganada, enterrando pedras, por exemplo, no lugar do parente morto.
Suspeitos
Tuma Júnior preferiu não divulgar todos os nomes envolvidos no esquema para não prejudicar a condução do caso. Mesmo porque, segundo ele, o vazamento da notícia no meio do inquérito vai prejudicar as investigações.
O delegado ainda não sabe quantas pessoas fazem parte da quadrilha que atuava no Heliópolis. Ontem, a diretoria do hospital afastou 24 funcionários.
As investigações começaram há três meses, quando a polícia desconfiou de casos de morte violenta que ocorreram no hospital e não foram notificados.
Apesar de não fornecer nomes, a polícia está investigando pelo menos dois médicos que não fazem parte do quadro clínico do Heliópolis, funcionários do hospital, a agência funerária Osvaldo Cruz, de São Caetano, e um cartório que fica na mesma cidade.
O médico Herbert Martinês, que segundo a polícia já respondeu processo por falsidade ideológica, é apontado como sendo a peça-chave de todo o esquema.
Martinês teria assinado a maioria dos 83 atestados de óbitos que são alvos da investigação. Procurado pela Folha, o médico se recusou a falar sobre o assunto.
Os familiares dos mortos serão todos ouvidos pela polícia. Até o momento, foram ouvidas cerca de 15 famílias. Em apenas um caso não foi constatada a fraude no atestado de óbito.
Segundo Tuma Júnior, se ficar comprovado que algum familiar pediu para alterar a causa da morte por algum motivo, ele será considerado co-autor.

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