São Paulo, terça-feira, 25 de fevereiro de 1997
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Liberdade aos presos políticos

ANDRÉ DE PAULA

Lamentavelmente, a prisão política não é coisa do passado em nosso país. Luciano Pessina (cientista social italiano recentemente libertado), vários sem-terra e os militantes do MIR (Movimento de Esquerda Revolucionária) chileno formam nossa extensa lista, que a cada dia aumenta mais.
Os miristas estão encarcerados há sete anos pelo sequestro do empresário Abílio Diniz, sofreram isolamento de 15 meses e torturas atrozes (Maria Emília por exemplo sofreu choque elétricos na vagina e nos seios, e quando gritava, era afogada com colheres de sal, tendo ficado, por isso, com sérios problemas respiratórios).
D. Paulo Evaristo Arns, cardeal de São Paulo, que foi grande mediador e impediu a ação violenta por parte da polícia durante a invasão do cativeiro do empresário, atesta o caráter político da ação, que teve rendição pacífica. Hélio Bicudo, deputado federal e jurista renomado, considera as penas exacerbadas, e a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal acolheu esse parecer.
O deputado Nilmário Miranda, presidente da citada comissão, representando os comitês pela libertação dos presos políticos do Rio de Janeiro e São Paulo, encaminhou extenso abaixo-assinado a Fernando Henrique Cardoso relatando aquela decisão e pedindo a expulsão dos miristas estrangeiros e o indulto ao brasileiro -na prática, a libertação de todos.
Outros prisioneiros políticos são membros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Pelo simples fato de tentarem promover a justiça ocupando um pedaço de terra para morar e plantar, abastecer a cidade e sobreviver, são muitas vezes condenados, presos, torturados, processados, mortos e têm suas plantações queimadas por capangas dos grandes fazendeiros ou até pela segurança do Estado burguês, capitalista e explorador, a polícia.
No oeste do Paraná, nove sem-terra foram condenados a dois anos de serviços à comunidade, em virtude de serem primários (Santa Isabel do Ivaí). No município vizinho de Palmital, quatro respondem a processo. José Rainha, Diolinda, frei Anastácio e seis trabalhadores rurais da Paraíba respondem a processos e volta e meia são presos, numa tentativa de intimidar o movimento.
Antes vivíamos numa ditadura militar e econômica. Hoje, a ditadura ainda é econômica, e o conflito, de baixa intensidade, no qual o sistema procura esconder o motivo das prisões e morte (a velha luta de classes). Precisamos nos organizar contra esse conflito que só prevê a desgraça dos pobres.

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