São Paulo, terça-feira, 25 de fevereiro de 1997
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"Queima" de estoque aquece vendas

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

O aquecimento das vendas neste mês está se dando muito mais pela queima de estoques do comércio do que pelo aumento natural do consumo.
As promoções baseadas em queda de juros e de preços levam algumas redes de lojas -como Lojas Cem, Bernasconi, Ponto Frio e Magazine Luiza- a faturar em fevereiro de 5% a 27% a mais do que em igual período de 1996.
Os lojistas consideram que estão atraindo a clientela com promoções porque a indústria -que entrou em 1997 com estoque- está também cortando preços e facilitando o pagamento para escoar os produtos.
Os preços de televisores e videocassetes, por exemplo, caíram 12% desde o final de 1996 até agora, segundo lojistas ouvidos pela Folha.
O comércio tem ainda prazo de 90 dias para pagar por eletroeletrônicos e móveis e de 60 dias por geladeiras e fogões. Detalhe: não há cobrança de juros.
Para adequar a produção à demanda, há empresas que estão dando, além de facilidades de pagamento, férias coletivas para seus empregados.
Metade dos 2.600 funcionários da Itautec Philco, de Manaus (AM), por exemplo, está em casa desde o último dia 13.
Uma parte volta a trabalhar no próximo dia 5, e a outra, no dia 27 de março. A Itautec Philco informa que férias coletivas nesta época do ano são normais e fazem parte do plano anual de compensação.
Esforço
"O crescimento do consumo está em cima das promoções", constata Luvirto Bernasconi, diretor da Lojas Bernasconi, rede de 27 lojas espalhadas pelo interior de São Paulo e sul de Minas.
Ele conta que a Bernasconi está faturando neste mês 12% a mais do que em igual período do ano passado. Além de os preços de alguns eletroeletrônicos terem caído, diz, a rede diminuiu de 6% para 5% ao mês os juros cobrados dos clientes.
No Magazine Luiza, com 78 lojas espalhadas pelo interior de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, o faturamento neste mês está 10% maior do que o de igual período do ano passado.
Eldo Moreno, diretor, atribui esse aumento ao esforço da empresa para trabalhar com promoções. Ontem, por exemplo, o Magazine Luiza comercializou um forno microondas Consul por R$ 210, ou por 16 pagamentos de R$ 19,90.
Segundo Moreno, a concorrência estava vendendo o mesmo produto por R$ 279, em média, à vista. A meta era comercializar em um dia o volume de um mês.
A partir de hoje, a rede tenta atrair a clientela ao aceitar para o dia 7 de abril o pagamento de qualquer produto. "O mercado está exigindo promoções agressivas."
27% a mais
Natale Dalla Vecchia, diretor da Lojas Cem, diz que a rede já fatura neste mês 27% a mais do que em igual período do ano passado. "Os preços e os os juros estão caindo e nunca foi tão fácil negociar com a indústria."
No Ponto Frio, rede com 215 lojas no Brasil, o faturamento neste mês está 5% maior do que o de fevereiro do ano passado.
Albert Arar, diretor, diz que a empresa está investindo mais em propaganda. Só neste ano serão gastos R$ 30 milhões.
O Ponto Frio, que oferece prazo de até 30 meses, já estuda a possibilidade de cortar os juros, que hoje são de 6,95% ao mês.
Prova de que o consumo não está aquecido é o esforço exigido para vender, dizem os lojistas.

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