São Paulo, terça-feira, 25 de fevereiro de 1997
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Prevenir ou remediar?

LUÍS PAULO ROSENBERG

A atual política cambial foi mantida. Ao se aproximar o limite superior da maxibanda cambial, o Banco Central elevou-o e avisou que ficam mantidas as minidesvalorizações. Ou seja, devagar e sempre para cima, o real é desvalorizado em algo como 0,6% ao mês, chova ou faça sol, acumulemos ou percamos reservas.
Em princípio, deve-se mesmo ser avesso a mudanças gratuitas na política econômica. Quanto mais velha e sustentável, mais confiável é a política seguida.
A questão é saber se os dados referendam a ação do Banco Central. Temos ou não problemas nas nossas contas externas, que se agravarão se insistirmos nos rumos atuais?
Do lado das exportações, nada de assustador. De fato, aparentemente as exportações voltarão a crescer neste ano acima de 5%, graças à excelente safra que estamos colhendo e que estaremos começando a exportar já em março; aos efeitos da desoneração de semimanufaturados e à desvalorização real do câmbio que beneficia o exportador de manufaturados.
Na verdade, os ganhos de produtividade constatados na indústria e o silêncio dos exportadores no que tange à necessidade de desvalorização cambial confirmam as expectativas favoráveis baseadas nos números preliminares dos dois primeiros meses do ano.
O problema está nas importações. Quase US$ 10 bilhões no sazonalmente fraco primeiro bimestre. Um ritmo anual perto de US$ 63 bilhões.
Que fazer, então, se estivermos caminhando para um déficit comercial de US$ 15 bilhões?
Em primeiro lugar, rechaçar que tal hipótese esteja confirmada. Há muita água para passar sob a ponte, os números poderão estar mais perto de US$ 8 bilhões do que de US$ 16 bilhões.
Mas, e se o número do déficit realmente estiver mais para US$ 15 bilhões?
Ora, no atual cenário internacional ofertado de recursos e com a diminuição do risco Brasil percebido é possível financiar um déficit desses sem perder um centavo de reservas, contraindo o mesmo valor em empréstimos novos do ano passado, desde que o investimento direto estrangeiro cresça como vem fazendo até aqui.
Seria sensato contar com uma capacidade ilimitada de financiamento externo, tendo que administrar a deterioração de expectativas que o dobrar do déficit comercial a cada ano provocaria na sociedade, sabendo-se que em 98 FHC quer reeleger-se e não pode sequer cogitar de uma pré-crise cambial durante sua campanha?
Para responder, vamos lembrar o clima de intranquilidade que se instalou no início de janeiro, quando ao fraco desempenho da balança dos meses anteriores juntaram-se os negativos saldos de divisas consolidados diários, indicando perda de reservas pelo mercado. O Banco Central foi forçado a vender pesadamente títulos cambiais para reverter o susto dos agentes devedores em dólar. A resposta, portanto, é que seria insensato ignorar as ameaças do quadro atual.
Assim, mesmo que uma maxidesvalorização agora seja uma loucura; dentro de seis meses, um gesto tresloucado e em 18 meses, algo pouco provável, alguma flexibilidade adicional na atual política poderia já ter sido implantada. Mais flutuação, por exemplo, com mais liberdade para os agentes do mercado participarem do nível de câmbio a ser fixado. Em vez de prevalecer sempre a vontade de um só tecnocrata presunçoso.

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