São Paulo, terça-feira, 25 de fevereiro de 1997
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Laudo da Unicamp revê o "caso Pimenta"

MATINAS SUZUKI JR.
DO CONSELHO EDITORIAL

Meus amigos, meus inimigos, esta coluna teve acesso a um documento que pode gerar uma reviravolta no caso do ex-presidente do São Paulo José Eduardo Mesquita Pimenta.
Ele é acusado de realizar negócios lesivos ao clube em transações com a empresa SP Sport Comércio e Representações Ltda. para exploração da marca São Paulo.
Em 24 de novembro de 1994 Pimenta foi eliminado do Conselho Deliberativo, do cargo de conselheiro vitalício. Processo administrativo visa a eliminação de Pimenta do quadro social do clube.
Pimenta requereu em primeira instância judicial a perícia contábil nos livros do São Paulo. O clube entrou com recurso em instância superior e impugnou a realização da referida perícia.
Pimenta está recorrendo da decisão no Superior Tribunal de Justiça, em Brasília.
Na reunião do Conselho do São Paulo que eliminou Pimenta, foi apresentada uma fita cassete que conteria diálogos entre Pimenta e o empresário de jogadores Francisco Monteiro, conhecido como Todé, nos quais o ex-presidente são-paulino sugeriria comissões na venda de jogadores.
No dia 26 de setembro de 1996, o Laboratório de Fonética Forense da Universidade de Campinas, o mais respeitado do país, concluiu laudo pericial de exame das fitas (a supostamente original e uma cópia) apresentadas na reunião do Conselho do São Paulo, assinado pelo coordenador do Laboratório, dr. Ricardo Molina de Figueiredo, e pelo assistente técnico Donato Pasqual Junior.
Na página 6, o laudo da Unicamp afirma que "as duas fitas questionadas não podem ser matriz e cópia uma da outra, mas foram ambas produzidas a partir de uma terceira fita".
Na página 12, abaixo de três gráficos, está escrito: "Nessa análise percebe-se uma entrada por demais abrupta da fala do interlocutor 3, no trecho: 'mas olha, mas é livre, né?... porque tem os quinze por cento...'. O sinal da fala não apresenta uma entrada gradativa, como normalmente ocorre, e aparece truncado, como fica evidente pelo aspecto da forma de onda em detalhe. É interessante observar que, nesse trecho, aparentemente ocorre uma quebra na continuidade discursiva: o interlocutor 3, na verdade, não parece estar respondendo à pergunta do interlocutor 2".
Na página 63, a última, o laudo conclui: "Resumindo, pode-se afirmar que as fitas questionadas não podem ser consideradas autênticas, em função do grande número de interrupções, falhas e quebras de continuidade na gravação e, eventualmente, na própria continuidade discursiva. Todas as evidências indicam que houve algum tipo de manipulação do conteúdo original dos diálogos".
O caso Pimenta chocou o mundo do futebol porque sua administração era feita sob o emblema da modernidade e do sucesso dos resultados.
O laudo da Unicamp pode mudar o rumo do caso e ser uma peça decisiva na próxima reunião do Conselho do São Paulo. Uma parte do jornalismo condenou José Eduardo Mesquita Pimenta antes da hora. Ao jornalismo, não cabe julgar. Cabe apresentar fatos.

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