São Paulo, terça-feira, 25 de fevereiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Futebol profissional 'quebrou'

MÁRIO MAGALHÃES
DO ENVIADO A JOÃO PESSOA

No começo do mês, a energia do clube mais popular na Paraíba, o Botafogo, foi cortada por falta de pagamento. Devido a dívidas, 110% -soma de vários itens- das rendas de seus jogos estão bloqueados pela Justiça.
Como a agremiação de João Pessoa, muitas estão com os salários atrasados desde o ano passado.
A maioria não paga, de fato, nem um salário mínimo mensal (R$ 112) aos atletas, embora seja esse o valor registrado em carteira.
Aos risos, Rosilene Gomes comenta a indigência das equipes profissionais: "Os clubes daqui não estão só quebrados, estão queimados há muito tempo."
A galhofa se explica: os clubes profissionais são os grandes opositores da presidente da federação.
Ela se mantém por causa de um polêmico estatuto que concede aos clubes amadores o mesmo direito de voto dos profissionais.
Além deles, votam ligas amadoras do interior, cuja criação é incentivada por Rosilene.
Na última eleição, havia 35 times amadores, 23 profissionais e 18 ligas -números que variam muito. Governando para os amadores, ela vive desafiando os profissionais.
Uma cena presenciada pela Folha ajuda a entender a cultura política do futebol local: há duas semanas, Rosilene recebeu dirigentes dos times amadores.
Presenteou-os com um jogo completo de uniformes, todos produzidos na fábrica da família Gomes. Cada clube levou, também gratuitamente, uma bola nova.
As bolas são fruto da única parceria da federação com uma empresa. A entidade recebe as bolas de graça para serem utilizadas no campeonato profissional, mas parte vai para os times amadores.
Para cada dirigente que vai buscar os produtos, Rosilene tem uma palavra amável. Eles beijam-lhe a mão, ela pergunta pela família.
A oposição dos clubes profissionais, diz, é motivada por ciúme. Segundo ela, o início foi o período mais duro. "Havia 49 processos trabalhistas contra a federação, que devia impostos, energia, telefone e tinha o prédio penhorado."
Com o futebol local arruinado e os estádios vazios, a entidade abriu mão, em algumas partidas, dos 10% a que tem direito nas rendas.
Como manter em dia o pagamento dos 11 funcionários? "Tiro de lá e boto cá", diz Rosilene Gomes. "Quando tenho de botar do meu bolso, boto".
Quanto? "Não quero nem saber porque senão fico triste."
(MM)

Texto Anterior: Mulher comanda na falida Paraíba
Próximo Texto: Cartola é a 'serpente da Paraíba', diz rival
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.