São Paulo, terça-feira, 25 de fevereiro de 1997 |
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Paralelas competiram em ruindade
LEON CAKOFF
O Panorama é dirigido ostensivamente às tribos homossexuais, onde o critério qualidade é o que menos importa. O Forum, que neste ano privilegiou o cinema brasileiro, concentra toda a carga da histórica culpa alemã. É piada no festival que basta enfatizar problemas de judeus ou propor um documentário com mais de três horas que a seleção no Forum está garantida. Foi o caso do chatíssimo "Exil Shangai", da alemã Ulrike Ottinger, um documentário de 275 minutos sobre emigração de judeus para a China dos anos 30 e 40. Mas pior foi a cubana-americana Ela Troyano ter deixado escapar em público, na apresentação do seu filme gay "Latin Boys Go to Hell", na sessão do Panorama, que o filme havia sido convidado para Berlim em setembro passado. Um mês antes de se começar a rodar o filme... Foram estes os destaques nas paralelas de Berlim. Panorama A seleção destacou filmes com adolescentes descobrindo a sua (homo)sexualidade, especialmente entre lésbicas. "Hide and Seek", da americana Su Friedrich foi um deles. E "Twisted", de Seth Michael Donsky, também americano, foi outro exemplo com emprego absurdo de crianças. Aprendemos com as 'sisters' (lésbicas), do filme americano "Slaves to the Underground", de Kristine Peterson, que a ordem agora é tomar cerveja. Não mais vinho e champagne. O mais descontraído e profissional nessa vertente foi o (sempre) americano "Set it Off", de F. Gary Gray: uma ação com quatro faxineiras negras que viram assaltantes de bancos. E os poucos momentos de seriedade e alguma qualidade foram assim distribuídos: o austríaco "The Unfish", comédia de Robert Dornhelm, com a atriz alemã do momento Maria Schrader. "Labirinto de Sonhos", do japonês Sogo Ishii, trouxe hipnose e magia. O toque romântico apareceu com "Love etc", da francesa Marion Vernoux, um triângulo amoroso tão original quanto se possa ser depois do clássico "Jules e Jim", de Truffaut. E dois raros momentos sérios do Panorama foram o triste documentário "Tupamaros", dos suíços Rainer Hoffmann e Heidi Specogna, com os sobreviventes do movimento terrorista Uruguaio nos anos 60, e o dramático "Mãe e Filho", do russo Aleksandr Sokurov. Inteiramente rodado em vídeo, os efeitos da passagem para o cinema são estranhos e hipnóticos. Igualmente rodado continuamente com duas agitadas câmeras de vídeo digital, "Wasted", do holandês Ian Kerkhof, foi o filme mais atrevido da seleção. Nas palavras do seu diretor, para ser visto por clubers tecnodrogados. "Wasted" banaliza (e glamouriza) o consumo overdosado de todas as drogas. Forum "Illtown", do americano Nick Gomez, é uma comovente viagem ao inferno da droga onde a próxima estação, sabemos disso bem no Brasil, é recrutar crianças para o negócio da sua distribuição. Muito musicado, crítico e divertido foi a revelação de "A Ilha de Lesbos", do americano Jeff B. Harmon. Numa ilha dominada por lésbicas, as duas principais vítimas são um gay escravo e uma inocente filha de fazendeiros de Arkansas, terra do presidente Bill Clinton. (LC) Texto Anterior: Seleção fraca ao menos faz justiça ao diretor Milos Forman Próximo Texto: "Larry Flynt" vence Festival de Berlim Índice |
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