São Paulo, terça-feira, 25 de fevereiro de 1997 |
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Seleção fraca ao menos faz justiça ao diretor Milos Forman
LEON CAKOFF
O Urso de Ouro do festival alemão contempla assim o melhor filme sobre imprensa e liberdade de expressão desde "Cidadão Kane". Ao menos a mostra faz justiça a uma produção que não se destaca como merece para a próxima rodada do Oscar. O júri do festival, presidido por Jack Lang, ex-ministro da Cultura de François Mitterrand, conferiu o "segundo lugar", o Urso de Prata, ao chinês de Taiwan "O Rio" (He Liu), de Tsai Ming-liang, um ótimo estudo sobre solidão e incomunicação. Ao aceitar mergulhar num rio poluído para ajudar uma filmagem, um jovem é infectado e sofre o filme todo sem que ninguém consiga ajudá-lo. A falta de diálogo e a falta de afeto dos pais faz o filme mergulhar em cenários ainda mais turvos em que emoção é a única coisa que não contagia e não serve como antídoto. Um toque gay solene reserva uma sequência chocante e inusitada no filme, em que o pai masturba o filho doente no cenário promíscuo de uma sauna. Carreira O cineasta franco-chileno Raul Ruiz, que concorreu com a deliciosa trapaça psicoanalítica "Genealogias de um Crime" (Genealogies d'un Crime), co-produção franco-portuguesa, recebeu também Urso de Prata "pela sua vida dedicada à arte do cinema". Finalmente, o júri atribuiu um terceiro Urso de Prata ao longa francês "Port Djema", de Eric Heumann, um filme assumidamente "turístico-existencial". É como um reconhecimento do amigo Jack Lang ao produtor de 13 filmes franceses, inclusive o oscarizado "Indochina", de Regis Wargnier, e do solene "Um Olhar a Cada Dia", (Le Regard d'Ulysse), do grego Theo Angelopoulos. Ainda privilegiando a França, a doce Juliette Binoche foi escolhida a melhor atriz, por "O Paciente Inglês", dirigido por Anthony Minghella (indicado a 12 Oscar). O melhor ator foi Leonardo DiCaprio por "Romeu e Julieta", dirigido por Baz Luhrmann, filme que, pelo regulamento do Festival de Berlim, não poderia concorrer por já ter estreado em muitas partes do mundo, inclusive no Brasil. O júri lembrou ainda de premiar o músico polonês Zbigniew Preisner, destaque em todos os filmes de Kieslowski, em "The Island on Bird Street", de Soren Kragh-Jacobsen, retomando as fatalidades do gueto de Varsóvia. "O Rio", de Tsai Ming-liang, acumulou também o Prêmio da Crítica Internacional. O brasileiro "O Sertão das Memórias", de José Araújo, recebeu o principal prêmio da seção paralela Forum e um montante de 20 mil marcos alemães. O júri do prêmio do Forum, com o brasileiro José Carlos Avellar, justificou a escolha "por José Araújo estabelecer uma relação dialética entre a realidade contemporânea e a grande tradição do cinema novo". Mesmo com a falta de melhores filmes, que estariam sendo reservados para o cinquentenário de Cannes em maio próximo, o grande trunfo do Festival de Berlim está na sua platéia, presente e entusiasta em todas as sessões. Diferentemente dos festivais de Cannes e Veneza, o Festival de Berlim envolve o público da grande cidade e faz disso uma grande festa. Texto Anterior: "Larry Flynt" vence Festival de Berlim Próximo Texto: Paralelas competiram em ruindade Índice |
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