São Paulo, terça-feira, 25 de fevereiro de 1997
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Filme mostra dualidade da guerra

ADRIANE GRAU
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM SAN FRANCISCO

O ator Nick Nolte faz com certeza o papel mais politicamente incorreto de sua carreira em "Mother Night", dirigido por Keith Gordon. O filme foi baseado no romance de mesmo nome de Kurt Vonnegut.
Fumando cigarrilhas e vestindo casacas, o radialista Howard W. Campbell Jr. vive muito bem em Berlim, casado com a famosa atriz alemã Helga Noth (Sheryl Lee, a Laura Palmer do seriado de TV "Twin Peaks").
Apesar de ser norte-americano, ele afirma que tem alma germânica. Quando começa a guerra, o radialista se vê envolvido numa confusa trama.
Usado como espião pelo Exército norte-americano, ele transmite em código durante seu programa de rádio na Alemanha. Espirros, pigarros, pausas e gaguejos são decifrados do outro lado da fronteira.
Não é ele quem escreve os boletins, tampouco espiona o exército inimigo. Apenas serve de canal para as mensagens da rede de informantes dos Estados Unidos naquele país.
Hitler
Para manter seu programa no ar, Campbell exalta as qualidades do nazismo e de Hitler, diariamente. Sua fama de anti-semita logo se espalha, assim como o terror do holocausto.
Howard Campbell só percebe as consequências de seu discurso já no fim da guerra, quando descobre a existência de campos de concentração. Acaba emigrando para a América.
Passam-se vários anos antes que o anônimo, empobrecido e enviuvado Campbell seja descoberto. Denunciado como pró-nazista, ele é levado a Israel para ser julgado por crimes de guerra. Na cadeia, convidado a escrever sua história, ele reflete sobre o que lhe parece contraditório.
O filme foi exibido no Museu da Tolerância em Los Angeles, Califórnia.
Segundo o diretor Keith Gordon, na platéia de vítimas do holocausto ninguém ousou condenar Campbell.
"Como julgar a consciência de um homem que via a história pela metade?", pergunta ele.
(AG)

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