São Paulo, terça-feira, 25 de fevereiro de 1997
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OS LIMITES DA CIÊNCIA

A clonagem completa de uma ovelha, obtida por cientistas de Edimburgo (Escócia), é um avanço de grande importância que não deve, em princípio, causar grandes preocupações. Em tese, a ciência já a previa. Entretanto, em termos éticos, implica inúmeros e seriíssimos questionamentos. Teoricamente, trata-se de um experimento que poderá, no futuro, ser aplicado de forma semelhante em seres humanos.
Para que servirá esse ser humano? Poderá ser um banco de órgãos, para ter uma vida normal? Poderá ser objeto de patente por alguma empresa? Essas e muitas outras perguntas relativas à bioética que poderiam ser levadas em consideração merecem ser analisadas em profundidade.
A revolução na física ocorrida por volta dos anos 20, apesar de toda sua grandiosidade epistemológica, não suscitou maiores problemas éticos. A relatividade do tempo ou a mecânica quântica jamais se relacionaram à vida concreta das pessoas -pelo menos até onde elas saibam; no campo da engenharia genética, porém, a situação muda de figura.
Limites acerca da manipulação genética, bebês de proveta, patenteamento de seres vivos e outros temas polêmicos que em potencial podem influir na vida de qualquer um estão hoje na ordem do dia em todo o mundo. Alguns países já chegaram a adotar legislações sobre o tema.
O fato é que a ciência proporciona, a cada dia, mais técnicas ou tecnologias que influem na vida do cidadão. É igualmente certo que o avanço nas pesquisas está ocorrendo num ritmo muito mais acelerado do que a reflexão ética sobre a mesma.
Não se pode, é claro, sob pena de incorrer em velhos erros do passado, conter a pesquisa científica. Mas existe uma diferença entre pesquisa e aplicação de novas técnicas. É justamente sobre isso que a sociedade deve discutir, em busca de uma definição sobre o que é ou não aceitável. Infelizmente, esse debate está, tanto no Brasil como na maior parte do mundo, ainda muito atrasado.

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