São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 1997
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Para d. Lucas, não se deve isolar o MST

ABNOR GONDIM

ABNOR GONDIM; ANA MARIA MANDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Presidente da CNBB defende participação de sem-terra em fórum de debates sobre reforma agrária

A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) criticou ontem o "processo de isolamento" do governo contra o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e se ofereceu para mediar a retomada de diálogo entre eles.
A posição da CNBB foi comunicada ao ministro Raul Jungmann (Política Fundiária). Ele visitou ontem o presidente da entidade, d. Lucas Moreira Neves.
D. Lucas é considerado integrante da ala conservadora da Igreja Católica, que não tem ligações com os sem-terra.
No encontro, d. Lucas disse que defendeu a participação do movimento dos sem-terra no fórum de debates sobre reforma agrária que o ministro está articulando com entidades não-governamentais.
Na opinião do religioso, a UDR (União Democrática Ruralista) também deveria participar desses debates. "O MST é um ator social que deve participar dos debates, sem que isso o exima de qualquer crítica", afirmou d. Lucas.
Segundo ele, a CNBB só deve mediar a participação do MST nesse fórum se contar com a autorização do governo e dos dirigentes da entidade dos sem-terra.
A Folha apurou que a direção do MST marcou uma audiência hoje com o presidente da CNBB.
As negociações entre o MST e o ministro estão suspensas desde agosto do ano passado. Jungmann não aceita a prática dos sem-terra de invadir prédios públicos e deter funcionários como reféns.
Após a visita, Jungmann não falou sobre a proposta que o presidente da CNBB disse ter feito a favor da participação do MST no fórum de debates.
O ministro defendeu "a prisão de quem desobedecer a lei", ao comentar a detenção de um líder do MST, do filho do proprietário da fazenda São Domingos e de quatro seguranças da fazenda após tiroteio que feriu oito sem-terra.
"A ação da autoridade é coerente toda vez que ela reprovar determinado delito, doa a quem doer", afirmou Jungmann.
Em São Paulo, onde chegou à tarde, disse que, "quando se fere ou mata alguém, se comete um delito de muita gravidade".
"Mas acho que a propriedade tem de ser respeitada. No momento em que o governo senta para negociar, não cabe nem invadir e muito menos atirar, se armar, ou milícias e execuções", afirmou.
Jungmann disse que o governo não tem intenção alguma de isolar o movimento dos sem-terra.
"Não concordamos é com os métodos do MST." O ministro disse que d. Lucas afirmou a ele também não ter "simpatia pelos métodos do MST".
Segundo o ministro, o que separa o governo e o MST não é "a postura anti-MST, de isolar o MST, até porque não se isolam movimentos sociais legítimos".

Colaborou Ana Maria Mandim, da Reportagem Local

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