São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 1997
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Arrogância típica do Mareolo não é novidade

JOSIMAR MELO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Mareolo abriu em dezembro último anunciado como um "casual café". Uma idéia simpática a da estreante Renata Castro, de 23 anos: fornecer boa bebida e comida rápida, no estilo dos cafés italianos.
Mas quem vai tomar um drinque na varanda não pode entrar no clima italiano pedindo um coquetel típico daquele país, o negrone.
A casa não tem. E não adianta solicitar ao garçom que peça ao barman para, em havendo os ingredientes, prepará-lo: a resposta será que, como o drinque não está no cardápio nem no computador, não será feito.
Na falta da bebida da Itália, seria justo -já que estamos no Brasil- poder então tomar uma caipirinha. De verdade, ou seja, de cachaça. Impossível. A casa não serve cachaça.
Não é uma arrogância exclusiva do Mareolo, mas comum a vários restaurantes. Trata-se de uma síndrome da classe média, que acha que pode se diferenciar do povo pobre se eliminar sinais e gostos "populares" e assim parecer mais refinado.
Não sabem que restaurantes refinados, mesmo, têm caipirinha de verdade, mesmo porque a elite estrangeira que os frequenta adora tomar a bebida local -cachaça.
Frustrada a parte etílica, resta comer, provavelmente nas salas de dentro, um tanto escuras, mas decoradas com bom gosto: cadeiras de vime, mesinhas como as dos cafés italianos e fotos nas paredes.
O melhor são os petiscos: a focaccia é bem atraente, de massa grossa e macia, e coberturas como a de berinjela, tomate e abobrinha.
Os sanduíches são irregulares: feitos num gostoso pão de batata, frustram quem busca por exemplo o de pernil acebolado (a carne é seca, a cebola mirrada, e aquele molho delicioso de botequim não existe).
Os pratos não funcionam: o paillard de filé à milanesa tem gosto de farinha crua e um débil molho de tomates. O filé com molho de tomates, alcachofra e alcaparras é salgado e vem com massa fria.
É preciso mais atenção.
(JM)

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