São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 1997 |
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'As Prostitutas' retoma humanismo de Pasolini
JOSÉ GERALDO COUTO
Talvez decorra dessa origem o caráter episódico do filme. São histórias paralelas de diversas prostitutas (e um prostituto) que vivem numa região deteriorada de Palermo, na Sicília. Tudo é filmado num belo preto-e-branco, granulado nos planos gerais, ultranítido nos closes. Há um certo constraste entre a secura com que são apresentadas as cenas da vida dos personagens e a beleza das imagens. Para quem já conhecia o trabalho de Grimaldi como roteirista dos filmes de Marco Risi "Mery Per Sempre" e "Ragazzi Fuori", o que chama a atenção é a mudança de registro: do drama naturalista e "sujo" em que, como diria Truffaut, "a feiúra entra por todos os lados", para uma visão mais depurada e límpida. Passou-se, em outros termos, do documento social à investigação existencial, metafísica. Os dois pólos entre os quais oscila o filme -e que se tocam eventualmente- são o sexo e o catolicismo. O primeiro é quase sempre visto como uma relação áspera, hostil, entre profissional e freguês. O segundo é ora uma presença opressiva, ora carência, aspiração à espiritualidade. Um dos melhores momentos do filme é o que mostra três rapazes contando piadas religiosas a uma prostituta. É só na esteira desse momento de dessacralização que o sexo se torna uma coisa leve, alegre e afetuosa. Em outra sequência, uma jovem prostituta despeja um discurso radicalmente blasfemo sobre duas beatas de alguma seita evangélica, mas faz uma ressalva: "De Jesus até que eu gosto, porque ele ajudava os pobres e comia a Madalena". Mas a cena mais reveladora da filiação cinematográfica do filme é a que mostra uma prostituta e seu filho numa praia triste e feia. Nesse momento fica patente, até pela música ("A Paixão Segundo São João", de Bach), que a principal dívida de Grimaldi é com o primeiro Pasolini (o de "Accatone" e "Mamma Roma") em seu olhar cristão ao lado mais sórdido do mundo. Se há algo a ser criticado é a falta de unidade estética desse filme mosaico, que parece apontar para vários lados e não levar nenhum às últimas consequências. Filme: As Prostitutas Direção: Aurelio Grimaldi Elenco: Ida de Benedetto, Guia Jelo, Lucia Sardo, Sandra Sindoni Cinemas: Morumbi 5, Olido 3, Belas Artes-Oscar Niemeyer e Top Cine 2 Texto Anterior: Próximo passo é fazer filme Próximo Texto: 'Baal - O Mito da Carne' volta à cena renovado Índice |
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