São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 1997
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Irmão do atirador de NY vive no Brasil

LÉO GERCHMANN
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O comerciante Saleh el din Abu Kamal, 51, disse ontem que vai lutar pela reparação dos US$ 500 mil que, segundo ele, foram "roubados nos EUA" de seu irmão, o palestino Ali Abu Kamal, 69.
No último domingo, Ali Abu Kamal matou uma pessoa e feriu seis para depois se suicidar com uma pistola Beretta no mirante do 86º andar do Empire State Building, um dos pontos turísticos mais visitados de Nova York.
Sobre a forma como poderia lutar pelo que considera "um direito da família", Kamal disse que vai se limitar a falar com a imprensa para fazer "um apelo ao Estado de Israel, aos palestinos e, principalmente, ao presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton".
Ele afirmou que o irmão nunca se envolveu com grupos terroristas."Acho que o meu irmão sofreu um golpe de vigaristas, e isso está sendo aproveitado por nazistas e racistas para fazerem uma intriga. Culpar os judeus é um erro, a única coisa que o sionista quer é defender seu povo. Tem uma novela no meio de tudo, e isso deve ser esclarecido", disse Saleh.
Kamal portava duas cartas em que fazia ataques ao sionismo e a países supostamente responsáveis pelos problemas palestinos -EUA, França e Reino Unido.
A polícia de Nova York acredita que Kamal cometeu os crimes de forma premeditada, mas por enquanto descarta que ele estivesse vinculado a alguma organização terrorista.
As autoridades também não encontraram indícios da existência dos cerca de US$ 500 mil que Kamal teria trazido aos EUA.
Saleh Kamal vive em Porto Alegre desde 1969 e tem um armazém na zona norte da cidade.
"Quero que o dinheiro seja recuperado e enviado para a viúva do meu irmão (Fathia Abu Kamal) e para os seus dois filhos (Mervat, 32, e Wissam, 12). Além disso, quero que ele seja enterrado em Gaza (território sob administração palestina)."
Separação
A última vez que os dois irmãos se viram foi em 1969, quando Ali Abu Kamal acompanhou Saleh até o aeroporto israelense de Ben Gurion. Ao todo, são cinco irmãos. Os outros três vivem em Israel.
Durante os últimos 28 anos, os dois trocaram correspondência esporadicamente.
No início dos anos 70, Kamal convidou seu irmão para morar com ele no Brasil. Ali Abu Kamal preferiu ficar vivendo em território palestino.
"Tem muita coisa que eu não entendo nessa situação. Em primeiro lugar, não sei o que teria levado o meu irmão a investir US$ 500 mil nos Estados Unidos. Ele não tinha necessidade disso e teria me consultado. Eu teria dito que o melhor seria a gente abrir uma loja de telefonia celular no Brasil", afirmou Kamal.
"Outra coisa é a nossa família. Nós somos de paz. Meu irmão não teria feito o que fez (o atentado no Empire State). Não sei se ele havia sido dopado ou sequestrado", disse Kamal.

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