São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 1997
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Emoções podem ajudar a tomar decisões corretas

VINICIUS TORRES FREIRE
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma experiência de cientistas portugueses e americanos mostrou que, pelo menos em algumas situações, as emoções e a intuição estão ligadas à tomada de decisões corretas. Elas influenciam o comportamento "sábio" antes mesmo de que se possa falar articuladamente sobre um problema.
Para chegar à conclusão, os pesquisadores testaram pessoas com danos cerebrais e outras saudáveis por meio de um jogo de cartas.
O trabalho foi realizado por Antonio Damasio e equipe, da Universidade de Iowa e do Instituto Salk, ambos nos Estados Unidos, e está sendo publicado na edição de hoje da revista "Science".
Os voluntários da pesquisa recebiam dólares em notas de brinquedo para jogar. O jogo consistia em tirar cartas de quatro montes. Para cada carta retirada, os jogadores perdiam ou recebiam dinheiro. Dois dos montes faziam os voluntários perder mais, informação que eles não receberam de início.
Depois de certo tempo, os voluntários saudáveis passavam a apostar mais nos montes que rendiam mais. Aqueles com lesões no córtex pré-frontal ventromedial (uma região do cérebro logo acima dos olhos) continuavam a perder.
Pessoas com essas lesões têm inteligência normal e vão bem em testes de memória. No entanto, têm dificuldades de tomar decisões sábias no cotidiano, ou as mudam constantemente, e têm pouca emoção -podem ter perdido a memória emocional.
Os cientistas interrompiam o jogo constantemente para verificar como os voluntários explicavam suas escolhas. Ao mesmo tempo, mediam a resposta de condutância da pele (SCR) -uma espécie de microssuor relacionado a mudanças de emoção.
Os voluntários normais apresentavam bastante SCR logo antes de escolher cartas do monte "errado" -aquele que os fazia "perder dinheiro". Pessoas com lesões cerebrais não demonstravam esse sinal de emoção e as perdas não faziam com que eles modificassem seu comportamento.
A pista mais importante obtida pelos cientistas veio da observação de que os voluntários normais começavam a "suar" muito antes de conseguirem explicar racionalmente como era o jogo e como faziam a maioria de suas escolhas corretas.
Isto é, os voluntários saudáveis demonstravam um sinal emocional diante da expectativa não racionalizada de perder.
O que a pesquisa indica é que, em pessoas normais, sinais emocionais não-conscientes podem ser um fator no processo de tomada de decisões.
O pesquisador Antonio Damasio diz que o córtex pré-frontal ventromedial deve ser parte do sistema que memoriza recompensas e punições. O sistema ativaria as respostas emocionais não-conscientes, popularmente chamadas de intuição.

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