São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 1997
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NA CASA DE CLINTON

Se, no Brasil, suporta-se com certa indiferença, talvez devido à complexidade dos temas, a ocorrência de escândalos -como o dos anões do Orçamento, entre outros-, nos Estados Unidos a capacidade de indignação da opinião pública parece ser bem maior. O fato de contribuintes da campanha do presidente Bill Clinton terem se hospedado na Casa Branca -o que poderia receber pouca atenção da população no Brasil- foi considerado no país um episódio de grande importância.
A democracia norte-americana é o exemplo maior, no século 20, de um paradoxo: a crescente utilização do marketing pela política aproxima o homem público do cidadão comum, mas também produz ceticismo e até mesmo repulsa pelos políticos.
O sistema político dos EUA padece também de problemas praticamente universais: baixo interesse dos eleitores, desprestígio do Congresso, grande influência do poder econômico. Para o Brasil, a experiência adquirida pelos norte-americanos é agora mais relevante, principalmente pela instituição da reeleição presidencial.
Nesse particular, a sociedade brasileira tem muito a aprender. Já houve o impeachment de um presidente, mas falta muito do ponto de vista da vigilância da sociedade sobre o sistema político e sobre o Executivo.
O caso dos pernoites na Casa Branca ilustra bem a distância entre os dois países no que diz respeito à apuração e à capacidade de indignação diante de escândalos. É interessante observar que a própria burocracia da Casa Branca forneceu as informações detalhadas sobre quem havia dormido na residência oficial, numa lição de transparência.
Mas o fato tornou-se mais relevante com as suspeitas de que o presidente dos EUA tenha efetivamente usado essa "mordomia" como instrumento de retribuição aos financiadores de sua campanha. Pois este é afinal o risco maior do processo eleitoral: o uso antiético de um cargo que representa a nação e não pode ficar sujeito aos caprichos de um candidato.

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