São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 1997
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A casa (branca) da sogra

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Tudo bem que privatização tenha se transformado em uma espécie de nova religião. Tudo bem que, em decorrência, os profetas da nova seita se comportem com o furor típico dos cristãos novos.
Ainda assim, convenhamos que o presidente Bill Clinton parece estar exagerando ao, de alguma forma, privatizar a própria sede do governo (a Casa Branca).
Convidar, como o fez, 900 e tantas pessoas para pernoitar em casa, ainda que em dias alternados, é coisa que só pode passar pela cabeça de políticos e, de quebra, políticos candidatos à reeleição.
Se fossem todos amigos do peito, tão chegados que se abre a própria casa para que nela durmam, Clinton mereceria menção no livro de recordes. Seria a única pessoa do mundo a ter tantos amigos assim.
Suspeito que, se o leitor se dispuser a fazer uma lista das pessoas que gostaria de convidar para frequentar eventualmente a sua casa, mal chegaria a cem, assim mesmo armado de uma enorme dose de boa vontade e amor ao próximo.
Para passar a noite, então, o número cairia consideravelmente.
O problema é que não são exatamente amigos de Clinton, mas uma parte dos financiadores de sua campanha. Aí, cria-se uma concorrência desleal: candidato algum, além do próprio presidente, pode oferecer a Casa Branca, mesmo que seja por apenas uma noite, aos seus financiadores.
Parece ser a definitiva mercantilização da política, se é que ainda faltava alguma coisa para evidenciá-la, sem mencionar o mau gosto do anfitrião e de seus convidados. Seduzir ou deixar-se seduzir por uma noite na sede do governo (qualquer governo) é de uma breguice quase inacreditável.
Fico imaginando como seria se a moda pegasse no Brasil. Para começar, seria preciso colocar catraca na porta do Palácio da Alvorada. O que tem de gente que daria tudo para passar nem que seja uma noite lá...

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