São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 1997
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O desemprego real

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Surgiu uma nova estatística para os dois primeiros anos de mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. Nos 24 primeiros meses de FHC, 717.101 brasileiros perderam seus empregos.
É esse o número de empregos formais, com carteira de trabalho assinada, que foi eliminado da economia brasileira de 1º de janeiro de 95 a 31 de dezembro de 96.
Os dados do Ministério do Trabalho são assustadores. Em 95, 412.151 postos de trabalho foram eliminados em todo o país. Em 96, um pouco menos: 304.950 empregos sumiram.
Onde anda essa gente? Estão todos migrando para a informalidade, para os únicos empregos reais que sobraram no país.
Esses números permitem, pelo menos, duas conclusões trágicas.
A primeira é que é insuficiente o crescimento da economia brasileira promovido pelo governo FHC. O país cresceu 3,1% em 96. Não houve geração de empregos formais. Muito pelo contrário, o número de postos de trabalho eliminados foi enorme.
A segunda conclusão é que a situação, apesar de ruim, tende a piorar. Sim, porque o ministro da Fazenda, Pedro Malan, tem dito que o nível de crescimento para este ano não será muito maior do que o de 96.
Logo, a conclusão óbvia é que haverá um repeteco das demissões em massa que têm sido rotina há dois anos.
O argumento para que a economia não cresça muito é até defensável: haveria um descontrole no país. Com um crescimento desenfreado, voltaria a inflação. Algo que ninguém deseja.
A alternativa, dizem os fleumáticos técnicos do governo, é "flexibilizar" o mercado de trabalho. Em resumo, acabar com os direitos trabalhistas que hoje entopem a Constituição.
Sem entrar no mérito da discussão, é fácil inferir que FHC não vai se lançar numa campanha para acabar, digamos, com o FGTS às vésperas de se recandidatar à Presidência.
Ou seja, para o governo FHC o desemprego criado pelo real não tem solução possível no curto prazo.

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