São Paulo, quinta-feira, 6 de março de 1997
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Montagem valoriza Mapplethorpe no MAM

ERIKA PALOMINO

Colunista da Folha A exposição de Robert Mapplethorpe no MAM é um acontecimento. Inaugurada anteontem à noite, impressiona pela quantidade de obras e pela montagem, sensível e respeitosa. É possível acompanhar a trajetória pessoal e profissional do fotógrafo americano (1946-1989), mesmo para quem desconhece detalhes de sua vida.
O principal mérito da exposição é o fato de que mesmo quem pensa já conhecer a obra de Mapplethorpe encontra novas fotos e abordagens para seus temas recorrentes, a comunidade gay, a expressão da sexualidade, o corpo como escultura e o homem negro.
De início, temos as colagens feitas no início dos anos 70. Já aparecem os motivos sexuais nas coloridas e fragmentadas imagens de homens nus, batizadas de fetiches.
Na mesma sala inicial já aparece uma das surpresas da mostra: as três t-shirts pretas, ícones da cultura gay, dispostas sobre três telas, como quadros. Nesse espaço, três garrafas enquadradas pelos gargalos dão o tom fálico que é também característica de sua obra.
Essas obras menos conhecidas dão lugar então aos retratos e nus mais populares do fotógrafo. O público vai passeando pelo salão principal do MAM, seguindo a parede em que personagens da cena sadomasoquista (dois homens amarrados por correntes) se misturam aos célebres nus que incluem cenas de masturbação e sexo oral, mais os auto-retratos.
Ao menos na noite de abertura, nenhuma reação de escândalo ou comoção. Parecem modernos e informados os espectadores da arte de Mapplethorpe.
Do outro lado, não eram muitos os que chegavam mais perto das obras mais impactantes -genitálias masculinas, situações homossexuais mais explícitas. Ao que talvez seja a parte mais pesada do trabalho de Mapplethorpe está reservada a mesa central, com ampliações menores do que o restante da mostra, assinadas pelo artista.
Ali estão o auto-retrato de Mapplethorpe com o chicote, o "fist fucking", o close do pênis mutilado que vira quase uma abstração -em tratamento mais discreto. Na confusão da vernissage de abertura, alguns nem chegavam a olhar essa parte de perto.
A musculosa atleta Lisa Lyon, uma das mais importantes figuras femininas da obra de Mapplethorpe, ganha um canto especial. São bons exemplos da visão do fotógrafo em relação ao corpo feminino; no caso de Lisa, suas imagens ajudaram a definir a estética dos anos 80, com uma mulher forte e poderosa.
A parede dedicada à cantora Patti Smith, musa de Mapplethorpe, traz alguns dos seus mais emocionantes retratos. Vale reparar na sequência dos três menores, menos conhecidos, em que Smith delicadamente se vira aos olhos do fotógrafo.
As flores são outro clássico de Mapplethorpe bem representado na mostra, em que o fotógrafo exercita seu trabalho de luz e composição, em alusões à natureza sexual. O igualmente famoso nu de um homem negro sobre um banquinho aparece em suas quatro variações de posição, numa mesma parede.
Bom que Mapplethorpe chegue ao Brasil sem censura, com a emocionante intensidade que garante sua passagem da década de 70 até os dias de hoje, superando até mesmo a Aids que o levou. Em Mapplethorpe, tudo é de verdade e a mostra do MAM corresponde à sua obra.

Mostra: Mapplethorpe (fotografias, colagens, pinturas e objetos)
Onde: MAM (portão 3 do parque Ibirapuera, tel. 011/549-9688)
Quando: até 27 de abril; ter, qua e sex, das 12h às 18h, qui, das 12h às 22h, e sáb e dom, das 10h às 18h
Quanto: R$ 5

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