São Paulo, quinta-feira, 6 de março de 1997
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Terra, ética e economia

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Tentarei resumir neste curto espaço um notável trabalho sobre a reforma agrária, de autoria de Augusto de Franco, da Ação da Cidadania contra a Fome, mais conhecida como a ONG do Betinho, e do Conselho da Comunidade Solidária.
Franco diz que "a reforma agrária, nestes meados dos 90, não apresenta mais o mesmo potencial impulsionador do desenvolvimento econômico que teria se tivesse sido realizada até o fim dos anos 50 ou, no máximo, na primeira metade da década de 60".
Consequência direta: "Não se trata de projeto para o futuro, mas de remédio para uma doença crônica, do passado. Estamos falando de uma reforma que precisa ser feita por motivos, antes de tudo, éticos e democráticos, de universalização da cidadania".
Ou, posto de outra forma, a reforma agrária "é uma reforma para excluídos, do campo e da cidade, para que possam ser assentados, ou seja, fixados e ocupados de alguma forma em um território apartado das cidades", escreve ainda Augusto de Franco, no número mais recente de "Monitor Público", excelente publicação trimestral do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro).
A reforma agrária dos 90 será necessariamente anacrônica, do ponto de vista econômico-desenvolvimentista, ainda que necessária "por motivos éticos e democráticos".
O problema vai ser convencer dessa tese, lógica e coerente, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra), dando de barato que certos setores do patronato rural são insensíveis e só cederão sob pressão social ou oficial.
Para o MST, trata-se de aceitar que o seu limite é esse modesto objetivo (uma reforma agrária para ampliar a cidadania, mas de limitado potencial de desenvolvimento econômico).
Mais: se e quando atingido o limite, o MST terá que se auto-extinguir, a menos que assuma de vez um conteúdo revolucionário, que, limitado ao campo, tornou-se anacrônico.

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