São Paulo, quinta-feira, 6 de março de 1997
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MÁFIAS DA TRANSIÇÃO

A transição do socialismo para o capitalismo no Leste Europeu tem sido mais difícil e traumática do que se imaginou inicialmente. Uma coisa é habituar-se rapidamente aos benefícios proporcionados pela liberdade política. Outra, bem diferente, é organizar uma sociedade habituada a décadas de domínio econômico do Estado para as complexidades da economia de mercado.
Países como a Rússia e, agora, a Albânia, carecem não apenas de mecanismos de preços, empresas dotadas de capacidade gerencial ou tecnologias modernas. Existem lacunas fundamentais no plano dos direitos civis, da obediência e da clareza dos contratos e da segurança.
Entre o Estado forte em crise e o mercado ainda incipiente, surgem vácuos organizacionais, nos quais se infiltram os aproveitadores de todos os matizes. Surgem as máfias da transição. Na Albânia, uma sociedade que tardiamente começa a integrar um sistema de mercado, as máfias proliferaram rapidamente e estão por trás dessa irrupção de violência que pode precipitar inclusive a ocorrência de uma guerra civil.
A Albânia é o país mais pobre da Europa e encontra-se em estado de emergência. A região Sul, menos pobre, está em armas. Nos últimos anos, houve já duas ondas de imigração em massa de albaneses. Agora pode ocorrer uma terceira.
A semente da rebelião atual, entretanto, foi a proliferação de esquemas fraudulentos de aplicação financeira, sem regulamentação, muitos associados a lavagem de dinheiro, tráfico de armas e imigração ilegal.
Tais máfias puderam vender com facilidade a idéia de que o capitalismo permite que todos enriqueçam rapidamente. É um raciocínio primário, claro, mas sempre sedutor, ainda mais para sociedades sem nenhuma prática anterior quanto ao funcionamento dos mecanismos de mercado.
A revolta e a violência que surgem nas ruas do país são consequências do fim de um lucro que parecia rápido e fácil, mas se provou ilusório.

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