São Paulo, sexta-feira, 7 de março de 1997
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Não aos agentes do nada

JOSÉ OLAVO BORGES MENDES

Quando a economia estatizada fracassou em escala mundial, e o muro de Berlim foi demolido, os militantes socialistas se transformaram imperceptivelmente em agentes do nada.
Antes, lutavam por um novo modelo de economia e de sociedade. Destruíam o que consideravam velho para abrir caminho à construção do novo. Ao ficarem sem objetivo final, passaram a destruir... para nada.
Assim, a guerrilha zapatista sabota a inserção do México no Nafta, enquanto os demais países latino-americanos dariam tudo para participar de um mercado comum com os EUA e o Canadá.
Seus congêneres peruanos tentam estremecer as relações entre Fujimori e o Japão, com cujo apoio o país andino vinha registrando seus melhores desempenhos econômicos em décadas.
E o Movimento dos Sem Terra entrou numa escalada de radicalização exatamente quando bilhões de dólares em investimentos no Brasil estão em curso, e outros tantos vêm sendo anunciados. Quer apagar a luz que já se vislumbra no fim do túnel.
O MST, aliás, já nem se preocupa mais em camuflar sua motivação eminentemente política: dispõe-se a intervir contra o processo de privatização das grandes estatais. E recruta abertamente indigentes urbanos para servirem de pistoleiros nas invasões do campo.
É hora de dar um basta à atuação impune dos agentes do nada.
Há pouco, no Pontal do Paranapanema, os sem-terra ameaçaram tombar um carro de polícia caso não fosse libertado um militante, preso por carregar uma garrucha calibre 38. Um senador e um deputado petistas intermediaram as negociações, e decidiu-se não cumprir a nova lei que manda deter quem porte ilegalmente armas.
Igualmente foi exigida e concedida a liberação do Santana apreendido de um militante que trafegava sem documentos. Temos agora duas leis no país, uma para todos nós, pobres coitados, e outra para os que se dizem sem-terra, mas têm carros e garruchas...
A imprensa, por sua vez, espalha pelo Brasil e pelo mundo as comoventes imagens de invasores colhendo milho que teriam plantado em invasões anteriores -sem esclarecer que milho só se colhe a partir de abril, quando está seco. Milho verde, como o mostrado naquela bela encenação, só serve para fazer pamonha. E o que se pretende, na verdade, é fazer de pamonha a opinião pública.
Existe um problema sério que o mundo inteiro está enfrentando: o desemprego causado pelos avanços tecnológicos, que permitem a menos pessoas produzir cada vez mais bens.
O caminho, entretanto, não é desperdiçar o imenso potencial do Brasil para a produção de alimentos que lhe permitiriam nutrir seu povo e exportar, condenando, ao mesmo tempo, os trabalhadores rurais à agonia lenta da agricultura de subsistência.
Dos assentados do passado, pouquíssimos conservaram suas propriedades, e um deles acaba de dar depoimento na TV justificando o arrendamento a terceiros com um argumento singelo: de que lhe adiantava a terra sem os meios para produzir?
Cabe aos governos tratar com todo o rigor da lei esses agentes da entropia, antes que mais pessoas morram ou sejam feridas... para nada. E, juntamente com a iniciativa privada, criar verdadeiras soluções para a ocupação da mão-de-obra rural e urbana, sem ceder à demagogia fácil, que só perpetua nossas carências.

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