São Paulo, sábado, 8 de março de 1997
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Livro traça perfil de um FHC 'brilhante'

Jornalista francesa lança biografia elogiosa

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

Está chegando às livrarias um livro que vai inflar ainda mais o ego de Fernando Henrique Cardoso.
Lançado pela Nova Fronteira, escrito pela jornalista francesa Brigitte Hersant Leoni, "Fernando Henrique Cardoso - O Brasil do Possível" é uma reverência às qualidades intelectuais do sociólogo-presidente e um habeas corpus preventivo contra as críticas às suas supostas mudanças de posição ideológicas.
2 - "Sua trajetória é coerente, relativamente transparente, porque ele tem a ética da responsabilidade e o realismo político como linha de pensamento. Não existem muitos pontos sombrios em sua biografia. Algumas hesitações, mas não erros irreversíveis".
Sobre o realismo político, diz bem o fato de ter se aliado ao PFL para chegar à Presidência da República, embora, muito pouco tempo antes, tivesse dito ao então presidente Fernando Collor de Mello:
"Fica complicado participar de um governo que tenha o PFL. O partido é a encarnação do atraso, e simboliza tudo de ruim que há no país" (trecho que Brigitte Hersant reproduziu do livro dos jornalistas da Folha Josias de Souza e Gilberto Dimenstein, "A história real: a trama de uma sucessão").
Coerência
Parece uma contradição insanável, mas se torna mais compreensível quando se examinam os antecedentes longínquos de FHC como intelectual.
Em vários trechos do livro, Fernando Henrique é descrito como o homem da conciliação, da busca do consenso, da recusa ao confronto.
Ginásio
Desde o ginásio, aliás. "Não era o líder, era mais o homem do consenso, das alianças", afirma a autora sobre o ginasiano FHC.
"Era o mais realista de todos nós. No debate, tinha mais habilidade para fazer sínteses do que para propor novas interpretações", diz dele o professor Bento Prado Jr., um dos integrantes do grupo com o qual FHC discutia "O Capital", de Karl Marx.
"Ele nunca proporá a ruptura ou a revolução, e sim a conciliação e a negociação", afirma a autora sobre o FHC da volta ao Brasil em 1968, após quatro anos de auto-exílio primeiro no Chile e depois na França.
"É um grande negociador, nunca afronta seus adversários", diz do amigo o filósofo José Arthur Giannotti, falando sobre o período FHC como fundador do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).
A rigor, o único gesto de radicalismo na trajetória de FHC foi frustrado: ensaiou tomar um avião, em São Paulo, para juntar-se ao grupo que resistia, no Rio Grande do Sul, ao golpe militar de 31 de março de 1964.
Mas o acesso ao aeroporto estava bloqueado pelo Exército e ele desistiu. "Seu movimento de resistência termina ali", relata a jornalista francesa.
Também na França
Tudo somado, já não causa surpresa que, ao final do livro, a autora constate que "se (FHC) declarou durante quase nove anos que era um social-democrata, hoje reconhece que a social-democracia não pode mais funcionar com o fim do Estado provedor, e que a globalização é inevitável".
É verdade que essa conclusão é uma livre interpretação de discurso que o presidente pronunciou na Cidade do México, em fevereiro do ano passado.
FHC jamais renunciou a rotular-se como de esquerda, o que, no seu caso, implica aceitar a designação de social-democrata, o único matiz de esquerda possível em um homem que passou a vida se insurgindo contra a esquerda mais dogmática.
O perfil biográfico de FHC será lançado simultaneamente na França, pela editora L'Harmadttan.

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