São Paulo, sábado, 8 de março de 1997
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Lição olímpica

JUCA KFOURI

Primeira parte: não adianta a imprensa torcer e especular. Com as exceções de praxe, nossa mídia entrou em clima de euforia e só fez aumentar a frustração pela não-indicação do Rio de Janeiro, desinformando ao invés de informar.
Segunda parte: sem unidade não se vai a lugar algum.
A Comissão Rio 2004 foi um saco de gatos, ressalvada a indiscutível competência de seu chefe, Ronaldo Cezar Coelho, um vendedor de primeira, mas que, também, subestimou os que remavam contra, como João Havelange -de relações apenas formais com a principal estrela do grupo, o ministro Pelé- e como Carlos Arthur Nuzman, do COB, que, ao menos, jamais escondeu seu ceticismo.
Se Havelange estivesse mesmo empenhado em usar de toda a sua influência para convencer o COI, não teria anunciado com tanta antecedência que não seria candidato à reeleição na Fifa, o que o diminuiu.
Se Nuzman fosse mesmo parceiro da idéia olímpica no Rio, não teria cancelado o Festival Olímpico de Verão, alegando que a Rio 2004 devia ao COB e à sua agência, a Sportsmedia, como, de fato, devia e deve.
E foi aí que começaram os problemas.
O grupo Havelange -do qual Nuzman faz parte- foi praticamente afastado da comissão com a indicação de Coelho e, já que estava fora, decidiu, num encontro, apenas fingir apoio.
Nas reuniões de que participava da comissão, Havelange quase se limitava a cobrar o que era devido ao COB e apenas mudou seu discurso, para o público brasileiro, após se convencer de que Fernando Henrique Cardoso -o responsável pela indicação de Coelho- poderá ficar ainda por muito tempo na presidência -alguém, portanto, com quem será melhor ter bom relacionamento.
As relações dentro da Comissão Rio 2004 eram tão ruins que alguns de seus membros, ao passar férias numa casa em um balneário do Rio de Janeiro, acolheram um cão vira-lata a quem logo deram o nome de "Nuzman".
Coelho, por sua vez, acreditou que poderia ganhar a parada na Suíça mesmo sendo sabotado -um erro fatal.
Agora resta esperar que a generosa mobilização popular carioca se volte para objetivos ainda maiores, como os de fazer da cidade mais bonita do mundo um palco menos desigual e problemático.
Quem sabe, assim, o sonho até se realize em 2008.

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