São Paulo, sábado, 8 de março de 1997
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MORRER

"Morrer é um aborrecimento. Mas a vida não é assim tão mais interessante. Devo dizer que eu esperava que morrer me desse um vislumbre, um significado, mas isso não acontece. Está apenas lá.
Eu não me sinto especialmente solitário, condenado ou tratado de maneira injusta, mas penso muito sobre suicídio, porque é tão aborrecido estar doente, mais ou menos como estar aprisionado em um romance de John Updike (...)
Escrever é um sacrifício, e Ellen nota e reclama, dizendo que eu deveria parar. Ela diz que nada mais importa, apenas o meu conforto; diz que nós não temos mais tempo para esse tipo de coisa. Algumas vezes eu paro, mas outras eu insisto. Eu importo agora.
(...) A história é escândalo, assim como são a vida e a morte. Estou morrendo... Veneza está morrendo... As certezas estúpidas dos últimos três quartos do século estão morrendo.
O melhor jornalismo dos últimos 50 anos foi de esquerda; o que significa que a natureza humana tem sido mostrada como inocente, decente no início e no fim da história.
Uma fantasmagoria, uma piedade, a idéia -uma abdicação da realidade, uma infinita condescendência (...) Os romances foram fantásticos também, como naves espaciais que abandonam o mundo. O real foi esquecido."

Trechos de "This Wild Darkness", do americano Harold Brodkey

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