São Paulo, sábado, 8 de março de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Realidade" orienta as imagens da cultura jovem

ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

Está no ar pela MTV o programa "Na Real", série realizada a partir do cotidiano de um grupo de jovens que vive juntos num mesmo local a partir de uma escolha de casting feita pela emissora.
Importado, o seriado tem versões gravadas em cidades como Londres e Nova York, onde é um dos principais produtos da MTV.
O êxito do programa serve de pista para um dos principais fundamentos da atual cultura jovem em todo o mundo: a realidade.
A indústria das imagens voltadas ao universo daqueles que têm seus vinte e poucos anos (os chamados twenty-somethings) se orienta por referenciais mais próximos da verdade de seu público.
A juventude dos anos 90 parece ter-se cansado de mitos e modelos distante do seu dia a dia. Quer heróis verossímeis; gente com a gente.
O início desta tendência foi com a campanha dos perfumes CK One, que pretende ser uma fragrância unissex, com fotos de Steven Meisel, apropriando-se de uma estética do underground nova-iorquino. Chega agora à mídia dos EUA a campanha do perfume CK Be, com fotos de Richard Avedon.
Na moda, verifica-se o uso de não-modelos (modelos amadores) em desfiles. Em editoriais de revistas, temos uma busca por modelos que não tenham cara de modelos.
Já entre as modelos de verdade, os stylists (criadores da imagem) e fotógrafos ressaltam características que as aproximem das pessoas comuns e não das modelos perfeitas, como olheiras e espinhas -na antimaquiagem vista em material da inglesa Corinne Day.
Day foi um dos pilares da chamada fotografia realista ou naturalista, que apareceu no início dos anos 90 junto com o movimento grunge na moda e com a explosão de Kate Moss, hoje supermodel.
Hoje outros fotógrafos seguem mais a fundo este estilo, como Glen Luchford, Jack Pierson, Terry Richardson, Wolfgang Tillmans. E mesmo profissionais que têm um padrão mais trabalhado, como a alemã Ellen von Unwerth, já mostram trabalhos dentro da nova estética, mais "suja".
Novas searas para mostrar as novas imagens da realidade são, além da revista "i-D", a também inglesa "Dazed and Confused".
Não se pode confundir a valorização da realidade com um tom modernoso. A tomar pela marca da estilista norte-americana Donna Karan, que assume o dia-a-dia como principal inspiração. Aqui, o caráter usável é que conta.
Como prega também a editora Anna Wintour, da "Vogue" América, no editorial que abre a edição de janeiro, cobrando dos estilistas roupas mais próximas da realidade e menos peças performáticas, para efeito de passarela. No Brasil, marcas como Equilíbrio e Viva Vida pregam a realidade como direcionamento. No território dos modernos, a Zapping tenta emplacar com uma moda jovem voltada para a individualidade.

Texto Anterior: 'Cadernos de Lanzarote' é mais diário que literatura
Próximo Texto: Look da cantora Patti Smith inspira a moda
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.