São Paulo, domingo, 9 de março de 1997
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Governo retalia por prêmio belga ao MST

DANIELA PINHEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo federal decidiu não receber o ministro do comércio da Bélgica e o príncipe herdeiro do país como forma de retaliação à entrega de um prêmio ao MST (Movimento do Trabalhadores Rurais Sem Terra) por entidade não-governamental belga.
Com a negativa do presidente Fernando Henrique Cardoso de conceder uma audiência à comitiva, o governo belga resolveu cancelar a visita ao Brasil, que estava sendo organizada desde fevereiro. Eles chegariam em 4 de maio.
Agend cheia
O Itamaraty nega que o prêmio tenha influenciado a decisão de FHC não se encontrar com as autoridades belgas.
Segundo o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Sérgio Danesi, a agenda de FHC no mês de maio está "impossível".
"O presidente vai ao Uruguai no dia 4 e tem a chegada do presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, no dia 8. Além disso, o presidente não tem obrigação de receber missões empresariais, que são uma iniciativa unilateral do governo estrangeiro", argumentou.
Mas diplomatas belgas ouvidos pela Folha disseram ter ouvido do Itamaraty que a concessão do prêmio foi entendida como um "gesto não-amigável" da Bélgica.
Apesar de evitar polemizar o caso, a Embaixada da Bélgica não esconde o descontentamento com a posição do governo brasileiro.
Segundo a embaixada, até a divulgação da indicação do MST para o prêmio, a agenda do ministro Philippe Maystadt e do príncipe Philippe da Bélgica previam o encontro de ambos com FHC.
Em seguida, a embaixada recebeu o comunicado de que a audiência não seria possível. Ainda insistiram -a viagem estava praticamente fechada- sem sucesso.
Prêmio
O MST ganhou o Prêmio Internacional Rei Balduíno para o Desenvolvimento 1996 -oferecido pela fundação de mesmo nome, sem vínculos com o governo belga. Concorriam outras 75 instituições ou personalidades. O valor do prêmio é de US$ 122 mil.
Na justificativa da fundação, lê-se que a premiação se deu "pelo papel essencial que a associação desempenhou na execução da reforma agrária, permitindo assim, por meio do regresso à terra, incentivar os mais desfavorecidos brasileiros, dando-lhes um novo projeto de vida e uma dignidade recuperada".
A entrega do prêmio será no dia 19, no palácio real em Bruxelas. Três representantes do MST vão receber a condecoração no lugar do líder do movimento, José Rainha Júnior, que está foragido da Justiça.
O prêmio Rei Balduíno é atribuído a cada dois anos a uma personalidade ou organização que tenha contribuído para o desenvolvimento de países do Hemisfério Sul ou para a melhoria das relações com o Norte.
O educador brasileiro Paulo Freire foi agraciado com a mesma premiação em 1980 "por sua contribuição para a pedagogia da alfabetização". No ano passado, ganhou a fundação africana Taso (The Aids Support Organisation) "pela eficácia da sua ação na prevenção e acompanhamento da Aids em Uganda".

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