São Paulo, domingo, 9 de março de 1997
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MST movimentou R$ 20 milhões em 96

JUNIA NOGUEIRA DE SÁ
ESPECIAL PARA A FOLHA

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) movimentou em 96 pelo menos R$ 20 milhões para fazer 167 invasões, publicar seu jornal mensal de 28.000 exemplares, pagar cursos, viagens e salários de 800 militantes "profissionais".
Esse valor não aparece na contabilidade do MST, mesmo porque ele não existe oficialmente e mantém suas contas na mesma semiclandestinidade em que mergulha sua estrutura. Ainda assim, é o movimento social mais ativo do país hoje, com porte de média empresa, contas em dia, assessoria de imprensa e página na Internet.
Em levantamento inédito, a Folha apurou que a maior receita individual do MST, cerca de R$ 4 milhões, vem do repasse de 2% dos financiamentos oficiais que os assentados recebem do Incra. O governo trata disso em documentos reservados desde o ano passado.
As 61 cooperativas surgidas em assentamentos ligados ao MST, reunidas na Concrab -Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária do Brasil Ltda., também contribuem com 2% de seu faturamento, em média, o que dá mais R$ 1 milhão por ano.
Quase todo o dinheiro circula em contas conjuntas abertas em nome de militantes da "base". Não há centralização, por questões de segurança, mas qualquer dúvida quanto ao emprego do dinheiro pode desencadear uma auditoria interna. Não se comenta, no MST, sobre casos de desvio de dinheiro. Por muito menos, mau uso, expulsa-se o militante.
A face oficial
A face oficial do MST é a ANCA (Associação Nacional de Cooperação Agrícola), criada em 86, um ano após o congresso que fundou o movimento, para receber doações, fazer convênios com prefeituras e Estados e pagar contas. A Folha encontrou seu registro no 4º Cartório de Títulos e Documentos de São Paulo, com 38 sócios.
No ano passado, a ANCA movimentou pouco mais de R$ 800 mil, dos quais R$ 500 mil ds posses dão um jeitinho de um médico conhecido passar o atestado e assim evitam a autópsia."
Segundo Francisco Claro, diretor do Instituto Médico Legal (IML) do Estado, seria preciso exumar o corpo para que a informação atestada pelo médico fosse checada, o que só é viável no caso de haver uma suspeita específica.
No limite, o médico que dá um atestado sem estar certo da causa da morte pode até estar escondendo um assassinato -por envenenamento, por exemplo.
O Conselho Regional de Medicina informou que não tem como controlar a veracidade dos atestados. O médico que falseia informações pode perder o diploma e, se condenado por falsidade ideológica, pegar até cinco anos de prisão.
Cabe à Polícia Civil fazer a triagem entre mortes naturais e violentas. Se não há sinais visíveis de violência, ele é encaminhado ao Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), que faz a autópsia.
Segundo Carlos Augusto Pasqualucci, vice-diretor do SVO, o serviço não suspende a autópsia se aparece atestado de óbito depois do encaminhamento. "Só com contra-ordem policial", diz.
Pasqualucci afirma que a medida -uma precaução do SVO para evitar fraudes- não está prevista na legislação.dor Vilson Kleinubing preparado pelo governo de Santa Catarina; um contra Roberto Requião, distribuído tempos atrás para a imprensa por seu arquiinimigo Hélio Duque; um contra Esperidião Amin, mencionado tempos atrás em um programa de TV por um ex-presidente da OAB leviano.
Os três estão guardados no armário dos jornais, porque ainda não são a bola da vez. Quando a CPI deixar de fornecer carne fresca para a fera, aí sim o tigre vai abrir a bocarra à sua frente. E, a exemplo do que sucede hoje com seus adversários, não terão a quem recorrer.
Não se saberá se eram inocentes ou culpados das acusações. E também não terá a menor importância. Porque o que interessa, apenas, é

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