São Paulo, domingo, 9 de março de 1997
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Privatização não garante tarifa menor

RODRIGO BERTOLOTTO
DA REPORTAGEM LOCAL

As privatizações das concessionárias de serviços públicos irão mexer com o bolso dos consumidores brasileiros, acostumados a décadas de tarifas subsidiadas e distorcidas pelo aparelho estatal nos mais diversos setores -das telecomunicações à energia elétrica, do gás ao abastecimento de água.
Tarifas irão subir ou cair de acordo com o grau de abertura dos serviços à concorrência privada. O desmonte dos chamados subsídios cruzados, em que determinadas classes de consumidores pagam mais caro em benefício de outras, também determinará o valor das contas de cada família no final do mês após a privatização.
Foi o que aconteceu em países vizinhos que avançaram mais na desestatização desses serviços básicos, como Chile e Argentina. Foi o que ocorreu em nações mais distantes, como a Inglaterra, berço da privatização, na era Thatcher, a partir de 1979. É o que está ocorrendo no México, com a quebra gradual do monopólio privado na telefonia, e na França, com a abertura dos mercados estatizados à concorrência privada.
No Brasil, o governo adotou o caminho chileno de quase 20 anos atrás e iniciou a reestruturação tarifária no setor de telecomunicações com antecedência, preparando o caminho para a privatização. O mesmo está ocorrendo lentamente no setor elétrico.
Preços
Em dois anos, as tarifas de assinaturas de telefones residenciais, por exemplo, subiram mais de 500%, para R$ 3,74. Mas ainda há muito o que fazer: o custo de uma ligação local é relativamente baixo (R$ 0,05 por minuto no horário comercial), mas os serviços de interurbanos e internacionais estão entre os mais caros do mundo.
O preço de uma linha residencial é de R$ 1.117,00 (ressarcido, na maior parte, com ações das companhias telefônicas) e deve baixar para R$ 400,00, em maio. Na Argentina, onde apenas duas empresas privadas exploram a telefonia, o custo é de US$ 250. No Chile, um dos países mais abertos nesse mercado, o custo é de US$ 142.
"A privatização passa necessariamente por uma reestruturação tarifária que elimina os subsídios cruzados, adequando as tarifas às realidades operacionais das empresas", diz Antônio de Castro, analista-chefe do Citibank.
Na Argentina, a privatização do sistema telefônico completou seis anos em novembro. O país e a cidade de Buenos Aires foram divididos ao meio, surgindo dois monopólios privados.
A infra-estrutura foi modernizada e houve queda no custo das linhas, mas o valor das chamadas foi quase duplicado.

Colaborou Rodrigo Bertolotto, de Buenos Aires

LEIA MAIS sobre tarifas à pág. 2-6

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