São Paulo, domingo, 9 de março de 1997
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Trabalho faz executivo tirar tatuagem

SUZANA BARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O executivo N.G., 28, viveu momentos de desespero ao ser convidado para passar um final de semana na Bahia pela diretoria da empresa alemã na qual trabalha.
Na hierarquia da multinacional, a viagem representava a chance de promoção. Mas, na prática, poderia ser o fim de sua carreira. Na praia, ele não teria mais o terno para esconder uma marca que ocupa um quarto de suas costas.
A saída foi inventar uma doença de pele, que lhe impedia de tirar a camisa, e procurar uma clínica para remover a marca.
"Os executivos em ascensão procuram tirar a tatuagem com medo de serem podados nas empresas. Eles sabem que a marca pode trazer problemas", afirma o cirurgião Cláudio Roncatti, que está removendo o desenho de N.G.
Na adolescência, no entanto, quando a marca é feita para durar para sempre, não há preocupação com o futuro profissional.
O empresário Maurício Gariglia, 30, diretor de uma empresa de empreendimentos imobiliários, lembra que foi o primeiro de sua turma a fazer uma tatuagem: um desenho com o Sol, mar e coqueiro. Convenceu os amigos a terem a marca e se identificarem com a então moda do "Menino do Rio".
Hoje, duas cirurgias plásticas e 72 pontos depois, ele exibe uma enorme cicatriz no local da tatuagem, no antebraço. "Quando as pessoas reparam, digo que foi um acidente automobilístico."
Gariglia decidiu tirar a tatuagem há sete anos. "Não aguentava as pessoas olhando feio. Estava ficando inibido e a marca me atrapalhava", conta ele, às vésperas de fazer um tratamento a laser para tentar melhorar a cicatriz.
Precaução
Depois de ouvir várias histórias sobre tais preconceitos, o estudante de direito Fábio Sanches, 22, decidiu tirar a sua. "Já vi muita cara feia, nunca nada explícito, mas tenho medo de ser prejudicado."
Sanches já está na sexta sessão de laser e, por enquanto, só anda no círculo profissional com camisa de manga comprida. A tatuagem foi feita próxima ao pulso quando ele tinha 17 anos. "O tatuador disse que não era um bom local por ser muito visível."
A preocupação de Sanches tem sentido. Claudir Franciatto, vice-presidente da Catho, empresa de recursos humanos, afirma que um executivo com tatuagem aparente dificilmente é contratado pelas empresas.
"No mundo dos negócios, o padrão é conservador e há muito preconceito com a tatuagem", diz.
Além dos motivos profissionais, o cirurgião Newton Roldão diz que os executivos procuram tirar a marca quando ela representa um momento específico da adolescência. "Há homens que tatuaram o nome de uma namorada no peito e agora estão com outra", diz.
Segundo ele, outro motivo para a procura dos profissionais pelas novas técnicas de laser é que não é necessário anestesia. O tratamento varia de quatro a oito sessões. Um desenho de tamanho médio custa cerca de R$ 800 para ser retirado.

Instituto Brasileiro de Laser em Cirurgia Plástica, tel. (011) 531-4120; Kyron, tel. (011) 820-4990 e Clínica Santé, tel. (011) 822-6602.

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