São Paulo, domingo, 9 de março de 1997
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Destaque do time da aldeia treina caçando preás

MÁRIO MAGALHÃES
DO ENVIADO A ÁGUAS BELAS (PE)

O ponta-esquerda Boió, destaque do Juventude, não tem a ajuda de nenhum preparador físico. Na corrida, porém, é raro um defensor superá-lo.
"Ninguém me pega porque eu treino caçando preás", afirma.
Em vez de usar arataca (armadilha), ele corre atrás dos roedores cujo sabor é muito apreciado no Nordeste.
Batizado como Valdir Correia, Boió cresceu perseguindo preás, rolinhas (pássaros), tejos (lagartos sertanejos) e camaleões.
Na pesca, ele usa as mãos, competindo com outros índios para ver quem é melhor.
"Nossos jogadores têm mais resistência porque desde meninos se preparam fisicamente, correndo no mato", diz o pajé fulniô, Cláudio Pereira Júnior. "O branco espera sentado a papinha, angu com leite. Por isso fica logo cansado."
Dribles
Maníaco por dribles, Boió se empolga ao falar de Garrincha, cujas façanhas ele só viu na televisão. "Garrincha gostava de maltratar os zagueiros."
O jogador do Juventude foi decisivo para levar a seleção fulniô à final da Olimpíada Indígena de 96.
Ele recebeu uma proposta do Vila Nova, de Goiânia, mas recusou-a, adiando o plano de fazer sucesso como profissional. "Tenho só 17 anos, vou esperar". Se pudesse escolher, iria para o Flamengo.
Para deixar a aldeia, o atacante fulniô vai exigir que outro índio o acompanhe. "Tenho medo de ficar sozinho."
Admirador de Ronaldinho, cujas partidas assiste pela TV, e fã de música romântica, Boió ganha a vida como artesão. "É melhor porque assim sou livre."
Seu maior prazer na vida é "driblar goleiro" -para isso, está implícito, ele terá deixado todo o time adversário para trás.
Assim que um jogo contra o Central acabou, Boió pulou o muro e sumiu. Depois, disse que foi devolver as chuteiras a um amigo.
"Que nada, ele estava envergonhado pela derrota e fugiu", disse um fulniô mais velho, o policial militar Diógenes Machado.
(MM)

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