São Paulo, domingo, 9 de março de 1997
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Coelho troca Rio 2004 por bezerros

RÉGIS ANDAKU
ENVIADO ESPECIAL A LAUSANNE

Exatamente uma semana atrás, cerca de 1 milhão de pessoas estava na praia de Copacabana manifestando apoio ao Rio como sede da Olimpíada de 2004. Hoje, dois dias depois da eliminação da cidade na corrida pelos Jogos, um motivo mais forte para levar os cariocas às praias é o fato de este ser o penúltimo domingo do verão de 97.
Uma pessoa, porém, estará na praia -a de Leblon, usando uma camiseta do Rio 2004- por causa da Olimpíada: Ronaldo Cezar Coelho, ex-banqueiro, empresário e deputado federal, que ganhou projeção como o homem encarregado de "trazer os Jogos para a segunda maior cidade do Brasil".
Nem a Olimpíada virá ao Rio em 2004 nem Coelho passará o último domingo do verão de 97 na praia. Enquanto os Jogos vão para Buenos Aires, Atenas, Estocolmo, Roma ou Cidade do Cabo, Coelho vai a Vassouras, interior do Rio.
Simplesmente trocará os "famosos" dossiês e relatórios olímpicos pelos "esquecidos" bezerros que tem em seu sítio.
Depois de tentar levar 14 delegados do COI a conhecer o Rio, Coelho, 49, vai agora, ele próprio, mergulhar em um livro sobre auto-conhecimento.
*
Folha - Depois de ir às ruas, mas ver a cidade fora das finais, o carioca terá ânimo para voltar à praia no domingo (hoje)?
Ronaldo Cezar Coelho - Imagino que sim. Isso (aponta para o símbolo do Rio 2004, com cinco fitas desenhando o mar e o Pão de Açúcar) veio para ficar.
Folha - Por que o Rio perdeu? O projeto foi reprovado?
Coelho - O projeto é irrepreensível. O Rio não foi reprovado. Apenas ficou de recuperação.
A exclusão quer dizer o seguinte: voltem e façam a tarefa, que passarão de ano. Serão aprovados.
Folha - Fazer a tarefa significa...
Coelho - Fazermos aquilo que prometemos no dossiê. As mudanças, as melhorias, a despoluição da baía de Guanabara, o projeto favela-bairro. Os governos federal, estadual e municipal precisam trabalhar para melhorar a cidade. Aliás, sei que já estão trabalhando. E a população precisa cobrar, exigir o prometido, independentemente de ter ou não Olimpíada.
Folha - Quer dizer que o Rio não está pronto?
Coelho - O Rio tem quatro anos para atualizar seu dossiê, executar aquilo que hoje é só plano. Aí será mais fácil convencer o COI.
Folha - Buenos Aires está mesmo bem preparada?
Coelho - A criminalidade lá é mais baixa. Os telefones dão linha. Mas o Rio não tem terrorismo.
Folha - Perder para os argentinos, mais caracterizados como rivais do que como parceiros, é pior?
Coelho - É competição, tem de ter perdedores. O Rio e outras cinco perderam. Em setembro, outras quatro vão perder.
Folha - O "sonho" Rio 2004 não existe mais. E o comitê?
Coelho - Não existe, pois seu objetivo morreu. Oficialmente existe, mas não vai durar muito.
Folha - Desempregado o senhor não vai ficar, vai?
Coelho - (Sorri pela primeira vez) Volto ao Congresso, em abril. Antes, quero ir ao sítio, descansar e comemorar meu aniversário.
Folha - Nada mais de Olimpíada?
Coelho - Neste fim-de-semana vou à praia, com a camisa do Rio 2004, mas no sítio só quero ver meus bezerros, ler.
Folha - Vai se isolar, triste?
Coelho - Triste não, porque isso (apontando novamente para o símbolo da campanha) surpreendeu. Os últimos meses foram desgastantes; quero sair de cena. (Nesse momento, um assessor pede o fim da entrevista para que Coelho atenda uma ligação do presidente Fernando Henrique Cardoso).

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