São Paulo, domingo, 9 de março de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

As migalhas da habitação

MILTON BIGUCCI

Observando os dados comparativos dos orçamentos de 1996 e de 1995 da União Federal, publicados nesta "Folha", na sua edição de 13.02.97, verificamos que a habitação e o urbanismo continuam vivendo como há anos, "catando as migalhas" dos recursos econômicos do país.
Nós, que atuamos na área há mais de 30 anos, construindo moradias e atuando em sindicatos de habitação, como o Secovi-SP, e em associações do segmento, como a Associação dos Construtores e Incorporadores do Grande ABC, temos nos manifestado há tempos sobre essas "migalhas" que são destinadas ao setor habitacional, em que pese o país ter um déficit habitacional estimado em torno de 10 milhões de moradias.
Senão, vejamos. Do "bolo" orçamentário de 1996, apenas 1,5% (um e meio por cento) foi destinado a investimentos no país.
A habitação e o urbanismo representam apenas 2,11% desses investimentos, tendo a sua frente as áreas de transporte, segurança nacional, educação e cultura, saúde e saneamento, agricultura, judiciário, administração e planejamento, desenvolvimento regional, assistência e Previdência.
O grupo habitação e urbanismo ficou em 15º lugar, com apenas 0,08% da fatia orçamentária.
Com esses dados, realmente fica claro que, mais do que o esforço dos construtores e agentes que trabalham no sistema, é preciso vontade política para resolver o déficit de moradia do país.
Se continuarmos dependendo apenas desses recursos, tudo será paliativo.
Não bastam os programas do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e suas cartas de crédito emperradas pela burocracia e por não encontrarem habitações suficientes para compra.
De que adianta financiar só o comprador, se o construtor precisa de recursos para produzir?
O Brasil precisa de construções voltadas para o segmento popular, é claro, mas precisa atender também a classe média.
O aumento anual demográfico da população é superior ao que se produz, ocasionando o aumento do déficit. Precisamos de um órgão macro para cuidar do setor da habitação no país. Precisamos de um Ministério da Habitação que reorganize o sistema, administre a política do segmento e aumente essas migalhas.
Há muita carência de habitação para tão poucos recursos. Precisamos construir muito mais do que fazemos hoje. Nesses anos todos, o "barulho" feito por meio da imprensa sobre alguns poucos recursos ofertados ao segmento tem sido bem maior do que as necessidades existentes no mercado.
Um dos caminhos para o desenvolvimento social do país é a construção civil, que dá emprego aos menos qualificados e moradia digna ao seu povo.
A construção civil, que perdeu mais de 600 mil empregados nos últimos sete anos, precisa ser vista como uma produtora de moradias em série, e estas como uma necessidade básica do cidadão a exemplo da saúde, da educação, do transporte e da segurança.
Não há mais tempo a perder.

Texto Anterior: Oferta de locação bate recorde
Próximo Texto: CARTA
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.