São Paulo, domingo, 9 de março de 1997
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As alternativas digitais

MARIA ERCILIA
DO UNIVERSO ONLINE

Sinal dos tempos: o presidente da The New York Times Electronic Media não sabia o que era jornalismo até 95. Martin Nisenholtz é um profissional de marketing e propaganda: trabalhou durante 11 anos na agência de publicidade Ogilvy & Mather, da qual era vice-presidente, e depois um ano na Ameritech (operadora regional da Bell, companhia telefônica). Pioneiro, investiu toda a sua carreira em produtos interativos, mesmo quando ninguém falava nisso.
A empresa que Nisenholtz preside contraria a fama da dama cinzenta, de avessa à tecnologia. Seu principal produto, o "The New York Times on the Web" acaba de ganhar o prêmio de melhor jornal da Internet, no concurso Interactive Newspapers '97, que julgou jornais de 26 países.
Nisenholtz acredita que a Internet, sendo uma mídia de tela, é concorrente direta da TV, e não do jornal. Para ele, um jornal como o "NYT", que privilegia textos longos e analíticos, não é bem traduzido para o ambiente da Internet. Veja abaixo trechos de sua entrevista exclusiva à Folha, em Nova York.

*
Folha - Quando foi criada a The New York Times Electronic Media e quais os seus produtos?
Martin Nisenholtz - Em agosto de 95. É uma empresa distinta do "NYT", embora obviamente pertença ao mesmo grupo. Somos responsáveis principalmente pelos produtos de consumo. Entre eles, o "The New York Times on the Web", o "Times", dentro da America Online e os produtos para TV. Planejamos para breve um "site" de resenhas, baseado no "NYT Book Review", mas também com conteúdo original.
Folha - O "NYT Book Review" é um produto de elite. Vale a pena investir nisso, na Internet?
Nisenholtz - Eu acredito que sim. Particularmente no caso do "NYT", que tem um mercado de elite no mundo inteiro.
Folha - O "NYT on the Web" é gratuito para norte-americanos, mas custa caro (US$ 35 por mês) para estrangeiros. Por quê?
Nisenholtz - Nossa idéia foi de que há muitas pessoas que vivem no Japão e na França e no Brasil, que pagam US$ 16 por uma cópia da edição do "NYT" de domingo e que indicaram que se pudessem ler o jornal na Web estariam dispostos a pagar o mesmo preço que cobramos por uma assinatura em Nova York.
Folha - Empresas como a Microsoft, AT&T e AOL começam a disputar com jornais na Internet (as três estão em diferentes fases de lançamento de serviços de entretenimento e notícias). Como o sr. encara este desafio?
Nisenholtz - Sim, estamos vendo competição vindo de lugares que não existiam antes, e muitas empresas colidindo. Estamos focalizados nisso, mas não é propriamente uma preocupação.
Folha - A competição com a TV deixou suas marcas no jornalismo impresso. Muitos jornais ficaram com "cara de TV", simplificando e encurtando seus textos e apelando para recursos visuais. Como o sr. acha que a Internet pode afetar o jornal a longo prazo?
Nisenholtz - Em primeiro lugar, acredito que a Web represente uma competição mais séria para a TV que para o jornal. É um meio baseado numa tela, como a TV. Artigos longos e analíticos como os do "NYT" não são bem traduzidos para a Web. O "USA Today", por exemplo, poderia ter mais facilidade nessa passagem. Isso é bom e ruim para os jornais, a longo prazo. Mas na verdade eu não me preocupo com o que é bom para os jornais, mas com o que é bom para o "NYT". Isso significa que estou me concentrando em maneiras de ir além da página impressa no "site". O "Cybertimes", no qual investimos muito em termos de material original para a Internet, é um exemplo disso.
Folha - Se o sr. tivesse que nomear três coisas em que a Internet é mais eficiente que outros meios, quais seriam?
Nisenholtz - Ela é obviamente excelente para produção de conteúdo interativo e com algum grau de personalização. Também para noticiário em tempo real, para fornecer a versão mais atual de qualquer assunto em o leitor esteja interessado. Finalmente, é uma grande ferramenta para a construção de comunidade, combinando conteúdo com comunicação.
Folha - Quantas pessoas estão envolvidas no "site"? Elas vêm do jornal impresso?
Nisenholtz - Cerca de 30, incluindo tudo: publicidade, editorial, tecnologia etc. Temos jornalistas sênior do "NYT", e júnior, contratados de fora. Os jornalistas júnior foram contratados fora porque a redação do "NYT" não tinha profissionais com habilidades específicas para a Internet. Mas não é permitido que o pessoal da redação colabore com o "site".
Folha - Quantos usuários do "site" assinam o jornal impresso? Qual o percentual de leitores locais, nacionais e internacionais?
Nisenholtz - Temos 20% de assinantes do jornal impresso cadastrados (o cadastramento é obrigatório). 25% do total são de Nova York, e 70%, do resto do país. Os 5% que sobram são de fora.
Folha - Como sr. acha que a propaganda na Internet vai evoluir?
Nisenholtz - Imagino três cenários: o primeiro, que chamo de revolução é caracterizado por períodos de atenção cada vez mais curtos, o que significa que é preciso oferecer cada vez mais entretenimento. O segundo, "evolução", prevê o domínio de megamarcas, que conseguirão atrair grande quantidade de consumidores para seus "supersites". O terceiro, "rejeição", prevê a maioria dos consumidores usando os computadores não como fonte de entretenimento, mas como ferramentas para realizar tarefas mundanas (registro de software, comparação de preços, atualização de endereços etc.) mais rápida e eficientemente. Talvez empresas grandes, com boa estratégia, possam ganhar dinheiro com publicidade em dois anos, mas elas poderão ser contadas nos dedos de uma mão.
Folha - O "NYT" assinou recentemente um acordo com a Netscape para a distribuição de notícias por correio eletrônico, exclusivamente para usuários do programa. O "Wall Street Journal" foi mais longe e dá acesso gratuito ao seu serviço para os usuários do Microsoft Explorer. Isso não compromete a independência dos jornais?
Nisenholtz - Nossos acordos de distribuição são completamente separados de decisões editoriais. Não acredito que alguém já tenha nos acusado de favorecer empresas que fabricam equipamento gráfico ou papel.

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