São Paulo, domingo, 9 de março de 1997
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Os desafios para a rede

MARIA ERCILIA
DO UNIVERSO ONLINE

O jornalismo eletrônico tem duas vantagens: baixo custo de distribuição e público potencial enorme. Por outro lado, está longe de ter chegado a um modelo de negócios -praticamente todas as grandes publicações do mundo têm uma presença na Internet, mas poucos podem dizer que sua operação é lucrativa.
A receita de publicidade na Internet ainda é baixa -o mercado norte-americano, que é o mais maduro nesta área, movimentou US$ 140 milhões no ano passado, contra US$ 40 bilhões da televisão.
Para Martin Nisenholtz, presidente do The New York Times Electronic Media (veja entrevista abaixo), o mercado de propaganda na Internet ainda não confia no meio. "Precisamos racionalizar as coisas para o anunciante para que ele saiba quem está exposto ao seu anúncio", afirmou ele no seminário "New Models for New Media", ocorrido recentemente em Nova York. "Mas qualquer que seja a metodologia para medir a audiência, este é um meio ainda na infância. Nosso investimento neste ano é em medidas precisas e estabelecimento de uma confiança no meio."
Entre os grandes jornais norte-americanos, o único a cobrar assinatura de seus leitores dos EUA na Internet é o "Wall Street Journal", que tem 75 mil assinantes.
Segundo Neil Budde, editor da versão on line do "WSJ", dois fatores asseguraram o sucesso da experiência do jornal: "Temos atualizações frequentes no site, entre outros serviços especiais. O leitor sente que tem tudo o que o jornal oferece, mais um diferencial. Sempre digo também que tenho sorte de ter a marca do 'WSJ'±". Mas a popularidade do jornal também é fruto de truques: "Colocamos uma seção de esportes porque a maioria dos nossos leitores nos acessa no horário de trabalho. Eles sentem que é OK ler o 'WSJ' no escritório, mas não a ESPN...".
Outro desafio enfrentado pelo jornalismo na Internet é a fragmentação do público -a audiência potencial é enorme, mas o número de opções é tão grande, que ela se dispersa por milhões de 'sites'. A estratégia das publicações tem sido investir no mercado local.
Segundo o consultor Terry Maguire, do conselho geral da World Association Newspapers e consultor da cooperativa de jornais New Century Network, "os jornais precisam ter uma estratégia local agressiva e um novo conceito de serviço. O jornal deve ser um meio de conexão do leitor com serviços, produtos e informações e não somente um provedor de notícias".
Parte dessa preocupação dos jornais com o mercado local vem da ameaça de novos competidores. A Microsoft deve entrar em abril no mercado de jornalismo na Internet, com o Sidewalk, um projeto milionário de sites municipais, voltados para entretenimentos e serviços. A AT&T já começou a operar um serviço semelhante, o CitySearch. A America Online, por sua vez, tem um equivalente no Digital Cities e a Warner Bros. Online vem atrás com um projeto que envolve estações de TV locais.
O que estas empresas têm em comum? Nenhuma delas era até então uma empresa de mídia.
Paradoxalmente, se o mercado local é fundamental para a consolidação de um público, marcas globais -como AOL e Microsoft- têm cada vez mais peso.
É em função disso que surgiram associações como a New Century Network, que reúne nove empresas, proprietárias de 75 jornais, inclusive o "The New York Times" e o "Washington Post". Maguire acredita que a reunião dos jornais facilita a venda de publicidade e aumenta a audiência. "Cada jornal da NCN tem suas áreas de excelência e seu mercado, não vejo problemas de competição."
Embora haja divergências quanto a modelos de negócios, a opinião unânime dos jornalistas envolvidos com a Internet é de que se trata de um meio no qual a criação de comunidade é fundamental. Daí a importância de serviços locais, fóruns etc. "A Internet é inigualável como ferramenta de construção de comunidade", afirma Nisenholtz. "É isso que tentamos criar nos fóruns do NYT."
Uma coisa é certa: a situação de hipercompetição na Internet, com jornais, TVs e sites gigantes como o Pathfinder (da Time Warner), garante muito mais informação que qualquer ser humano consegue consumir.
Para Neil Postman, professor da New York University, os jornalistas ainda não se adaptaram ao mundo que eles mesmos ajudaram a criar. "No século 19, a questão que o jornalismo resolveu foi a escassez de informação. No fim do século 20, temos a situação oposta. O problema é como se livrar de informação indesejada."
Ao contrário do que afirma Postman, o remédio pode estar a caminho: entram em cena os filtros e serviços de personalização de notícias. "É uma das áreas em que mais apostamos", diz Neil Budde. Através destes serviços o leitor pode restringir o noticiário que lê às suas principais áreas de interesse, evitando o ruído de milhares de fontes de informação diferentes.

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