São Paulo, domingo, 9 de março de 1997
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Relação é retomada a partir de 90

RODRIGO BERTOLOTTO
DE BUENOS AIRES

A Argentina deu neste ano uma guinada na sua estratégia diplomática no tema Malvinas: trocou a "sedução dos kelpers" pela "soberania compartilhada".
A partir de 1990, o país retomou as relações com o Reino Unido, negociando assuntos pontuais (pesca e petróleo) e esquecendo a soberania, que ficaria no âmbito da comissão de descolonização da Organização das Nações Unidas.
Ao mesmo tempo, o chanceler argentino, Guido di Tella, iniciava sua frustrada tentativa de sedução.
Utilizando desde mensagens natalinas até concessões nas negociações, Di Tella procurou a aproximação com os kelpers, mas, depois, teve de admitir que a tática não alcançou nenhum progresso.
Na virada deste ano, a Argentina trocou o discurso e apresentou ao Reino Unido uma proposta de compartilhar a soberania das ilhas, prontamente recusada.
"A soberania não se negocia, não se dá e nem se compartilha", respondeu Michael Portillo, ministro de Defesa britânico.
Em janeiro, um encontro em um castelo medieval em Chevening, sul de Londres, criou novo atrito. A reunião tripartite foi convocada pelo chanceler britânico, Malcolm Rikfind, adversário político de Portillo entre os conservadores do Reino Unido.
Os argentinos chegaram achando que os kelpers iriam ouvir a proposta de soberania compartilhada. Por seu lado, os kelpers esperavam que os argentinos "completa, final e inequivocamente" renunciassem à soberania sobre as ilhas Malvinas.
O encontro terminou poucos minutos depois de ter começado, com a saída abrupta das autoridades kelpers.
Mesmo com esse quadro, o presidente argentino, Carlos Menem, continua declarando ter um pressentimento que até o ano 2000 as ilhas voltarão a ser argentinas.
Menem já propôs ao presidente dos EUA, Bill Clinton, para que atue como mediador. Clinton colocou o tema em sua agenda, mas, ao final, deve seguir neutro.
Trabalhistas
Na Constituição reformada de 1994, a Argentina reclama a soberania sobre as ilhas como "objetivo permanente e irrenunciável".
Os argentinos alimentam a esperança que um eventual governo trabalhista no Reino Unido seja mais cordial nas conversações.
"O Partido Trabalhista diz que manterá a diplomacia dos conservadores. Mas fala isso porque está em campanha. Na verdade, eles vão exigir que os kelpers entrem nas discussões", afirma Di Tella.
Em sua corrida presidencial de 1989, Menem prometeu recuperar as Malvinas a "sangue e fogo".
Ao assumir, o presidente adotou a via diplomática.
Mesmo assim, os kelpers seguem barrando pessoas que possuem passaporte argentino e não discutem a volta de um vôo comercial com o vizinho.
Os únicos argentinos que podem visitar as ilhas são os parentes dos soldados mortos. Houve duas viagens de familiares em 1997, trazendo cerca de 20 pessoas cada uma.
Os visitantes foram deslocados para a desabitada Darwin, onde está o cemitério com 234 cruzes -apenas 111 têm identificação.
Eles dormiram em um albergue improvisado, não puderam se aproximar de Port Stanley e, em menos de 24 horas, estavam de volta à Argentina.
(RB)

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