São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 1997
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Tá assim de telhado de vidro na CPI da moda

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Que "A Indomada", que nada! A onda agora é ligar a TV Senado e assistir à novela dos precatórios.
A diversão é garantida. Ou será que não é de chorar de rir ver o Espiridião Amin, do PPB de Paulo Maluf e Celso Pitta, com peito de pomba e óculos pendurados na ponta do nariz, gritando a altos brados: "Temos de pegar os ladrões!"
E o Roberto Requião? Por incrível que pareça, o Requião relator da CPI é o mesmo Requião que teve o mandato cassado no Paraná, acusado de ter se elegido à base de calúnias nunca comprovadas contra seus adversários.
Enquanto aguarda que o caso seja julgado nos tribunais superiores de Brasília, Requião dá show na CPI. E grita: "Temos de pegar os ladrões!".
Jader Barbalho. Sim, senhoras e senhores, Jader Barbalho é mais um de nossos destemidos mocinhos da CPI. Aliás, foi o nobre senador quem "inspirou" a CPI da moda.
Grande gesto, não fosse o fato de que ele "desejou" a CPI pelo singelo motivo de ter se irritado com o apoio de Gilberto Miranda à candidatura Antonio Carlos Magalhães para presidente do Congresso. Do outro lado do plenário, Jader Barbalho engrossa o coro: "Temos de pegar os ladrões!".
Não podemos nos esquecer do grande Bernardo Cabral, ex-ministro da Justiça do Collor. Aquele Bernardo Cabral, lembra? Do dentista, do bolero, da Sorbonne, que magoou aquela coisa fofa de ministra, lembra? Pois esse mesmo Bernardo Cabral também entra na dança: "Temos de pegar os ladrões!".
O mais engraçado nesse fantástico novelão mexicano é ver que os precatórios passaram pelo Senado com rapidez incomum. E, agora, é o próprio Senado quem investiga sua ligeireza. É de capotar de tanto rir ou não?
E o Banco Central, que está cooperando com a CPI? Esse vai ter de explicar sua lerdeza. Dias atrás, Delfim Netto conversava nos corredores do Congresso com um empresário inglês, que lhe dizia: "Não entendo como desaparecem US$ 600 milhões e ninguém percebe". O inglês que vá tentar entender o caso do Banco Barings, não é mesmo?
Afinal, o Banco do Brasil não teve o maior prejuízo da história (US$ 7,5 bilhões) e ninguém notou? Pois é. No país do alalaô, de tanto rir, a gente acaba deixando de ver o que acontece à nossa volta.

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