São Paulo, domingo, 16 de março de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fiscalização do BC "esquece" corretoras

SILVANA QUAGLIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado financeiro brasileiro tem 5.239 instituições. Distribuidoras e corretoras de valores, títulos e câmbio somam 530. Mas, se superam em número os bancos, o mesmo não ocorre em relação ao status. Os 442 bancos merecem maior atenção da fiscalização do Banco Central.
O motivo é simples: os bancos -comerciais, múltiplos (que oferecem vários tipos de investimentos) ou de investimentos- interferem diretamente na vida dos poupadores e das empresas. Se um grande banco tem problema, todo o sistema sofre.
Já corretoras e distribuidoras relacionam-se principalmente com outras instituições do mercado. Se uma delas quebra alguns investidores do próprio mercado sofrem, mas dificilmente se produzirá uma crise ou se colocará o mercado financeiro em xeque.
A preocupação da fiscalização do Banco Central é cuidar para que o sistema esteja sempre saudável. Até porque, como explica seu diretor de Fiscalização, Claudio Mauch, "não há país desenvolvido sem um sólido sistema financeiro".
Depois de enfrentar a quebra de alguns grandes bancos como o Nacional e o Econômico, em 1995, o BC ganhou mais poderes, mudou alguns procedimentos e agora orienta a fiscalização mais para a prevenção do que para a análise do que já foi.
Um empréstimo de cerca de US$ 20 milhões do Banco Mundial também está sendo esperado para ajudar no treinamento dos fiscais, que devem ser orientados para essa nova visão da fiscalização. O dinheiro também financiará a compra de equipamentos.
Segundo Mauch, o investimento em novos programas que forneçam informações on-line do mercado tem sido fundamental para a modernização da fiscalização.
O BC avalia que só dentro de dois anos se poderá ter uma idéia exata de quantas pessoas seriam necessárias para fiscalizar todo o mercado. Atualmente, são 519 fiscais no país, ou dez instituições para cada fiscal. Nos países desenvolvidos, esta relação é de quatro fiscais por instituição.
A estabilidade econômica, a globalização e a rapidez com que se fazem operações no mercado financeiro foram as tônicas que determinaram as mudanças no processo de fiscalização no Brasil.
O balanço deixou de ser a peça fundamental para os fiscais e passa a auxiliar na análise do que já foi -oferecendo uma fotografia de um momento da vida da empresa.
Mas é acompanhamento do dia-a-dia, à distância, feito mediante informações do balanço cruzadas com informações das operações do mercado, que permite uma avaliação precisa.
As corretoras e distribuidoras de valores ganharam destaque no cenário nacional ultimamente por causa do ruidoso caso dos precatórios. Estados e municípios emitiram títulos pretensamente para o pagamento de dívidas judiciais, chamadas de precatórios.
Estes papéis foram negociados com um desconto inicial muito grande e depois comprados e vendidos várias vezes, foram se encarecendo, gerando lucros exorbitantes para os intermediários.
O dinheiro desapareceu por meio de prejuízos fabricados por algumas dessas empresas, no mesmo mercado financeiro que permitiu os descontos iniciais e o consequente prejuízo a cofres de Estados e municípios.
Na rotina da fiscalização do BC, corretoras e distribuidoras são verificadas periodicamente. A cada seis meses, em média, todas são visitadas por fiscais que reviram suas contas. Mas é no movimento do dia-a-dia que eles conseguem descobrir se algo não vai bem.
Foi isso que aconteceu quando, no ano passado, o BC descobriu que pelo menos 15 instituições estavam comprando títulos muito barato, vendendo muito caro e fazendo o dinheiro sumir no caminho. As 15 foram liquidadas no dia 21 de fevereiro.

Texto Anterior: A CPI também é da imprensa
Próximo Texto: Títulos públicos: veja o que o BC fiscaliza
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.