São Paulo, domingo, 16 de março de 1997
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'Emergentes' são visíveis a longo prazo

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Se um marciano chegasse à Terra perguntando como está o crescimento econômico no planeta, ficaria confuso.
Na semana passada o governo japonês anunciou que a economia está conseguindo crescer um pouco mais. Nos EUA, onde neste março comemora-se um ciclo de seis anos de crescimento ininterrupto, os sinais de vigor assustam cada vez mais, provocando o medo de uma reversão, com alta das taxas de juros.
Na União Européia, está difícil promover o crescimento e cortar os gastos dos governos ao mesmo tempo. Alemanha e França chegaram a um acordo, dando uma trégua na obsessão de Maastricht até que os franceses tenham realizado suas eleições legislativas de 98.
Em resumo, predominam as arritmias e as incertezas. A economia dos EUA cresce como nunca, mas não se sabe até quando. Japão e União Européia fazem o que podem para sair do atoleiro. Haveria outros exemplos igualmente inquietantes: a China cresce de modo ininterrupto, mas ainda não conseguiu completar a reforma do seu setor produtivo estatal. Na América Latina, uma década de ajustes ainda não permitiu definir um cenário de crescimento sustentável. A África ainda sofre o círculo vicioso da pobreza. No Leste europeu, a transição para regimes de mercado mal começou.
O marciano, provavelmente tendo mentalidade científica mais avançada, pediria aos terráqueos mais dados, para não se deixar levar pelos azares do curto prazo ou pelos humores da conjuntura.
Poderiam mostrar-lhe a tabela acima, com dados sobre crescimento econômico nos últimos 170 anos. Ele teria de examinar, em primeiro lugar, as taxas médias de crescimento nas várias regiões do planeta ao longo do tempo. A conclusão seria desanimadora: o crescimento econômico foi baixo nesse período (entre 2% e 3%).
Olhando com mais cuidado, nosso marciano perceberia que em países "novos", nas Américas e na Ásia, as taxas médias de crescimento ficaram bem acima da média planetária. Os dados foram organizados por Angus Maddison e divulgados em 1995 pela OCDE.
Na visão de longuíssimo prazo, a constatação de que as regiões novas foram as que mais cresceram parece óbvia. Mas daí podem surgir conclusões menos triviais.
Uma delas é que a trajetória de longuíssimo prazo talvez deva às opções de política econômica menos do que se imagina. A Europa, por exemplo, alcançou taxas "asiáticas" de crescimento apenas no pós-guerra, quando o continente simplesmente teve de ser reconstruído. Em "países novos", como os EUA, passado o pós-guerra também ocorre uma perda de dinamismo. Ásia e América Latina, entretanto, crescem sistematicamente mais com o passar do tempo.
As políticas econômicas e as várias combinações de "Estado" e "mercado" certamente fazem diferença nas trajetórias de cada economia em prazos menores (dentro de cada um desses ciclos). Mas, na visão do marciano, provavelmente faria muito sentido dar alguma razão aos loucos especuladores do final do século 20 que insistem na idéia de que é um bom negócio apostar nos chamados "mercados emergentes".

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