São Paulo, domingo, 16 de março de 1997
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Ilusões com a Europa

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

ALVARO ANTÔNIO ZINI JR.
A visita do presidente francês ao Brasil revigora os laços de simpatia cultural e política com o velho continente, mas também parece estimular ilusões quanto a uma maior integração econômica. É importante compreender as complexidades do quadro europeu atual e as limitações objetivas das nossas economias.
Infelizmente, as relações entre o Brasil e a Europa ainda se assemelham muito ao padrão colonial de comércio. Importamos máquinas, produtos químicos e tecnologias avançadas e exportamos café, soja e produtos primários. Mais importante: nem o Brasil nem a América do Sul são prioridades para a Europa.
O cenário político europeu é bastante complexo e o projeto de uma Europa unida vai se distanciando na medida em que os problemas reais vão aparecendo. Nos anos 80, os países do lado ocidental formularam um projeto de união continental tanto no plano econômico quanto nos planos político e militar. No plano econômico, essa união avançaria pelo estreitamento dos laços comerciais, moeda única e leis harmônicas. No plano político, haveria o fortalecimento da União Européia.
O desmoronamento do comunismo no Leste europeu tornou prioritária a incorporação daquela parte do continente no projeto da grande Europa. Esta prioridade se explica tanto por fatores geopolíticos quanto pelas oportunidades econômicas criadas.
Mas acreditava-se que a transição para a economia de mercado fosse mais fácil e rápida. Também se acreditava que a união econômica e a introdução da moeda única fossem ocorrer sem maiores transtornos, o que não se dá.
Antes se pensava em integrar o Leste, primeiro, pela economia, e depois pelo pacto militar. Hoje, temendo-se os conflitos potenciais se houver uma desestabilização naquela região, decidiu-se avançar com os planos de integração militar, cuidando-se da segurança, e ir mais devagar nos lados econômico e político.
Mas, em qualquer desses planos, a inclusão dos países do Leste exige mudanças institucionais profundas nos corpos dirigentes da União Européia. Ao mesmo tempo, o baixo crescimento da economia e a elevação do desemprego têm aumentado as divergências.
Nesse quadro, em que a prioridade maior da Europa é para com seu próprio projeto de integração e com a incorporação do Leste, a América Latina é uma área econômica interessante, "ma non troppo". Não vamos criar muitas ilusões.

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