São Paulo, domingo, 16 de março de 1997
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Metrô de Paris faz teste com máquina de vender livros

Libération
de Paris

NADYA CHARVET

"Conheci o coronel Fred Downes no escritório da agência do Orient Express. Ele me causou impressão bastante boa." Assim começa "Le Nouveau Crime de l'Orient Express" ("O Novo Crime do Orient Express"). Fazia muito tempo que os aromas sentidos nos corredores do metrô parisiense ou do RER (o metrô suburbano de Paris) não eram os de mistérios.
Foi sem dúvida essa uma das razões que levaram a editora La Vôute a escolher, como primeiro volume de sua nova coleção "Métro-Police", o romance curto (ou novela longa) de Gérard Delteil, de 62 páginas. É verdade que a trama tem ambientação ferroviária -mas com certeza é mais romântica do que a da linha A do RER.
Desde o início de março, o livrinho policial está sendo vendido em cinco das maiores estações parisienses da RER -Charles-de-Gaulle, La Défense, Auber, Châtelet e Gare-de-Lyon. Outros virão a seguir.
A operação, montada em conjunto pela editora, pela empresa distribuidora e pela companhia do metrô, pretende oferecer um livrinho policial diferente por semana aos 7 milhões de usuários do metrô e do RER. Os livros têm 64 páginas cada e foram escritos para serem lidos em 60 minutos, o tempo de um trajeto de casa até o trabalho.
Alguns dos livros serão reedições de romances policiais lançados antes da Segunda Guerra Mundial, e haverá também obras de autores contemporâneos, escritas no espírito dos romances populares dos anos 30, próprios para serem consumidos nas estações e nos trens do metrô, mas não em família -é essa a idéia da companhia do metrô, que quer seduzir o usuário e melhorar a imagem da empresa.
A eficácia do projeto ainda não foi confirmada. Nos primeiros dois dias de comercialização, 600 livros foram vendidos nas cinco estações que os oferecem. Mas nem todos os usuários do metrô se mostram entusiasmados.
Um problema é que os livrinhos não são fáceis de encontrar, já que estão sendo vendidos em 50 máquinas distribuidoras Selecta, entre embalagens de balas e chocolates. Marc, executivo, comenta: "Acho estranho que sejam vendidos como lenços de papel. Sou a favor da democratização da leitura, mas isso já é demais".
Mas uma estudante discorda: "Por dez francos (US$ 2), eu compro, e se não gostar, jogo fora"
Os livrinhos terão cinco semanas para mostrar a que vieram. Se, durante esse prazo, não forem vendidos vários milhares de exemplares, a Selecta vai parar de fazer sua distribuição. Em caso contrário, ampliará os pontos de venda.
Em breve, a companhia do metrô promover ateliês de jardinagem em algumas estações. Objetivo: arejar as cabeças dos viajantes estressados e inverter a curva descendente do número de usuários.

Tradução de Clara Allain

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